Jean Tauler (c. 1300-1361), dominicano em Estrasburgo
Sermão 20, 3º para a Ascensão
«Então, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi arrebatado ao Céu». [...] Os membros do Corpo de Cristo devem seguir o seu chefe, a sua cabeça, que foi arrebatado hoje. Ele precedeu-nos, para nos preparar um lugar (cf. Jo 14,2), para que nós, que O seguimos, possamos dizer como a noiva do Cântico dos Cânticos: «Arrasta-me atrás de ti» (1,4). [...]
Queremos segui-Lo? Devemos ter também em consideração o caminho que Ele nos mostrou durante trinta e três anos: caminho de pobreza, de despojamento, por vezes muito amargos. Mas temos de seguir esse mesmo caminho se quisermos chegar, com Ele, acima de todos os céus. Mesmo quando todos os mestres estiverem mortos e todos os livros queimados, encontraremos sempre, na Sua santa vida, um ensinamento suficiente, pois Ele mesmo é o caminho e nenhum outro (cf. Jo 14,6). Sigamo-Lo, portanto.
Tal como o íman atrai o ferro, assim o amável Cristo atrai a Si todos os corações a quem tocou. O ferro tocado pela força do íman é elevado acima do que lhe é natural, sobe, seguindo-o, embora isso seja contrário à sua natureza. Já não tem repouso até ser elevado acima de si próprio. Assim também, que todos aqueles que são tocados no mais fundo do coração por Cristo já não retêm, nem a alegria, nem o sofrimento. Elevaram-se acima de si próprios até Ele. [...]
Quando não somos tocados não devemos imputá-lo a Deus. Deus toca, empurra, adverte e deseja igualmente todos os homens, quer da mesma maneira a todos os homens, mas a Sua acção, a Sua advertência e os Seus dons são recebidos e aceites de formas muito diversas. [...] Nós amamos e procuramos outras coisas que não Ele, por isso os dons que Deus oferece sem cessar a cada homem ficam muitas vezes por utilizar. [...] Só poderemos sair desse estado de alma com um zelo corajoso e decidido e com uma oração muito sincera, interior e perseverante.
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