Estamos em pleno período do Advento. Nele devemos preparar-nos da melhor maneira para receber o Messias prometido, o Cristo Jesus.
Vamos encontrá-Lo, no dia do seu aniversário, não como triunfador impetuoso de toda a humanidade, mas apenas como uma simples criança acabada de nascer, dependente em tudo de seus pais. Tratam d’Ele com a delicadeza do amor que sabem dar duas criaturas muito simples e nada opulentas. Ele é um artesão, ela uma jovem judia, natural da Galileia, que será a mais excelente das mães que a história conheceu e conhecerá. Chama-se Maria. Juntamente com o seu marido, José, não necessitará de grandes teorias pedagógicas ou didácticas para educar o recém-nascido. Basta-lhe o amor que derrama o seu coração e também o do santo varão com quem se desposou.
A cena com que deparamos não poderia ser mais surpreendente. Jesus, o filho de Maria, nasceu num presépio, não num palácio, ou, ao menos, num casebre humano. Todo o interior desse espaço pouco atraente nos recorda que aí habitam ou passam, habitualmente, animais, como as ovelhas dos rebanhos, os bois e as vacas que ajudam o homem com o seu trabalho e com o que oferecem tão generosamente: a sua carne e o seu leite. Como berço primário, uma manjedoira. Uma luz ténue, na noite já crescida, ilumina o casal e o seu rebento, que dorme, regalado, entre as palhinhas, a sua cama improvisada.
Sabemos que José e Maria, pressurosamente, procuraram um lugar mais digno para o nascimento de Jesus. Mas tudo lhes foi recusado. Nem em casas particulares – talvez de alguns parentes do artesão, cuja família era oriunda de Belém, a terra de David, seu antepassado –, até à estalagem a que foram bater, certamente a abarrotar de israelitas que tinham chegado até aí para cumprirem o incómodo recenseamento que o longínquo imperador de Roma havia ordenado. Não foi, pois, por incúria ou pouco esforço dos seus pais que Jesus nasceu no presépio. As circunstâncias mostraram-se o mais adversas possível. Dir-se-ia que a indiferença e o egoísmo humano foram os grandes motores da recusa sistemática ao bom acolhimento desses jovens viandantes, apesar das súplicas e razões apresentadas por José. Como que houve um cruzar de braços universal, acompanhado por expressões “tenham paciência”, “não posso tratar agora do vosso problema”, “arranjem-se como puderem”, “como se atrevem a importunar gente de bem a esta hora?”, etc.
Com grande dor de alma, sobretudo por parte de José, apareceu, como recurso último, o presépio. Com que vergonha e pena não veria a situação de Maria agravar-se de momento a momento, sem conseguir encontrar um final minimamente adequado. A futura mãe de Jesus acalmá-lo-ia, dava-lhe ânimo e tentava despreocupá-lo. É provável que José não tenha deixado entrar Maria naquele tugúrio, sem que primeiro o tenha asseado minimamente.
Depois, conhecemos bem a história. Nasceu aí Jesus, criador do universo, que não quis ser um ser humano esquisito, mas uma criança imberbe e inerme como todos nós fomos, para ser educada e aprender a ser homem com o exemplo dos seus pais. Daqui a pouco, se aí nos mantivermos, veremos chegar mais gente simples e humilde. São os pastores que, animados pelos anjos que cruzaram o espaço celeste, lhes anunciaram a nascida do Salvador. Seria possível que outro tipo de pessoas entendesse a mensagem angélica? Todo o presépio é um convite à humildade e à simplicidade. Aprendamos a sua lição, festejando com os seus visitantes como é bela a cena que descobriram.
E ao notarmos que eles oferecem os seus presentes com a naturalidade das suas posses, entreguemos aí o nosso orgulho e a nossa auto-suficiência, depondo-os nas mãos de Jesus, Maria e José, os membros da família mais unida e carinhosa de que nos fala a história dos homens.
Imagem: Presépio de Machado de Castro.
(Pe. Rui Rosas da Silva – Prior da Paróquia de Nossa Senhora da Porta Céu em Lisboa in Boletim Paroquial de Dezembro, título da responsabilidade do autor do blogue)
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