É inevitável que, em sociedades altamente secularizadas, a Igreja Católica tenha cada vez mais dificuldades para fazer chegar a sua mensagem. O 7º Seminário Profissional de Gabinetes de Comunicação da Igreja, realizado em Roma de 26 a 28 de Abril, abordou este problema com propostas sugestivas para melhorar a comunicação institucional da Igreja.
Uma das ideias que inspirou este Congresso, organizado pela Faculdade de Comunicação Institucional da Universidade Pontifícia da Santa Cruz, foi reunir num mesmo foro jornalistas das mais variadas tendências com os responsáveis dos gabinetes de comunicação da Igreja.
A iniciativa era arriscada, sobretudo num momento em que o escândalo dos abusos sexuais cometidos por alguns sacerdotes no passado se converteu num tema quase exclusivo na informação sobre a Igreja.
Jörg Bremen, do jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, pediu rapidez e iniciativa aos comunicadores eclesiais. "Parece que é Bento XVI quem deve resolver as controvérsias. Há um grande vazio no meio: o Papa já disse o que tinha que dizer; agora alguém deve comunicar a sua mensagem".
Gian Guido Vecchi, do Corriere della Sera, deu alguns conselhos práticos aos assistentes: "Não condenem o jornalista que se engana: dêm-lhe dados seguros. Não digam ‘venha ter comigo amanhã', porque temos que escrever a página de qualquer maneira. Sejam breves e claros; nós trabalhamos em contra-relógio".
Elogio do "slow-food"
José María La Porte, vice-decano da Faculdade de Comunicação Institucional da Universidade Pontifícia da Santa Cruz, propôs ideias para enriquecer o diálogo entre jornalistas e comunicadores da Igreja.
Aos primeiros pediu serenidade e capacidade de análise para abordar os temas mais complexos. Servindo-se da distinção entre slow e fast-food, explicou que "um jornalista não pode limitar-se a revelar os acontecimentos mas deve analisar as correntes de opinião".
Com frequência, a rapidez com que alguns jornalistas abordam as polémicas relativas à Igreja faz com que se perca o contexto em que as coisas se passam. De maneira que a informação acaba por ser deturpada e parcial. Casos como o dos abusos sexuais requerem um tratamento mais profundo, que permita perceber a verdadeira essência do fenómeno.
Por sua parte, os comunicadores institucionais não podem limitar-se a salvaguardar a imagem da instituição que representam; acima de tudo está o bem comum (o escândalo dos abusos, as vítimas). Longe de a denegrir, esta abordagem crítica pode contribuir para renovar a identidade cristã.
Uma proposta estratégica
O lema do congresso "Identidade e diálogo", serviu de bússola ao professor La Porte para elaborar uma proposta que contribua para melhorar o papel dos comunicadores da Igreja. Vem a propósito resumi-la em nove princípios de actuação:
1. O comunicador institucional deve ser um verdadeiro interlocutor. Isto exige melhorar a própria formação para conhecer melhor a mensagem que se transmite e adquirir um maior conhecimento técnico.
2. Abordar os debates públicos com um documento que sintetize a própria posição; este texto, de uma ou duas páginas, facilita o diálogo ao mesmo tempo que serve para clarificar a própria identidade.
3. Facultar conteúdos com uma dieta rica em vitaminas intelectuais. Trata-se de material valioso para os jornalistas para que cheguem ao fundo das questões, incentivando assim o "slow-food" informativo.
4. Considerar as polémicas como uma oportunidade de comunicação para reafirmar a própria identidade católica e transmiti-la.
5. Esboçar um esquema de valores para apresentar o cristianismo de forma atractiva: solidariedade, alegria, testemunho dos santos...
6. Propor de modo constante e coerente a própria posição em diversos foros, contando com a ajuda de pessoas destacadas e experientes.
7. Traduzir em estratégias comunicativas as principais orientações da diocese ou das instituições.
8. Criar um discurso comunicativo sobre a identidade cristã a partir de duas coordenadas: a essência da perspectiva da Igreja, que propaga uma mensagem universal nas comunidades locais, e a essência dos temas relacionados com a fé.
9. Potenciar a criatividade para abrir novos espaços de diálogo com grupos e instituições diversas. Trata-se de criar um ambiente comum à volta de um valor partilhado como a transcendência, a solidariedade ou a beleza da liturgia ou da arte.
Juan Meseguer Velasco
Aceprensa
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