Obrigado, Perdão Ajuda-me

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As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

sábado, 24 de outubro de 2009

Ordinariatos pessoais - O texto da Congregação para a Doutrina da Fé

Publicamos a seguir o texto da nota informativa da Congregação para a Doutrina da Fé, a propósito dos Ordinariatos pessoais para os anglicanos que entram na Igreja católica, apresentada na manhã de terça-feira 20 de Outubro, na Sala de Imprensa da Santa Sé.

Com a preparação de uma Constituição Apostólica, a Igreja católica responde aos numerosos pedidos que foram submetidos à Santa Sé por grupos de clérigos e fiéis anglicanos, provenientes de diversas regiões do mundo, que desejam entrar na comunhão plena e visível.

Nesta Constituição Apostólica, o Santo Padre introduziu uma estrutura canónica que provê a uma reunião corporativa total através da instituição de Ordinariatos pessoais, que hão-de permitir que os fiéis ex-anglicanos entrem na plena comunhão com a Igreja católica, conservando contemporaneamente elementos do seu específico património espiritual e litúrgico anglicano.

Em conformidade com o teor da Constituição Apostólica, a vigilância e guia pastoral para tais grupos de fiéis ex-anglicanos será assegurada por um Ordinariato pessoal, cujo Ordinário será igualmente nomeado pelo clero ex-anglicano.

A Constituição Apostólica, que em breve será publicada, representa uma resposta razoável e também necessária a um fenómeno global, oferecendo um único modelo canónico para a Igreja universal, adaptável a diversas situações locais e, na sua aplicação universal, equitativo para os ex-anglicanos. Este modelo prevê a possibilidade da ordenação de clérigos ex-anglicanos casados, como sacerdotes católicos. Motivos históricos e ecuménicos não permitem que homens casados sejam ordenados Bispos, quer na Igreja católica, quer nas Igrejas ortodoxas. Por conseguinte, a Constituição Apostólica determina que o Ordinário possa ser um sacerdote, ou então um Bispo não casado.

Os seminaristas do Ordinariato são preparados juntamente com outros seminaristas católicos, não obstante o Ordinariato possa abrir uma casa de formação com a finalidade de responder às particulares necessidades de formação no património anglicano. Deste modo, a Constituição Apostólica procura criar um equilíbrio entre o interesse de conservar o precioso património anglicano litúrgico e espiritual, e a preocupação que estes grupos e o seu clero sejam incorporados na Igreja católica.

O Cardeal William Levada, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que preparou esta iniciativa, afirmou: "Procuramos ir ao encontro, de modo unitário e equitativo, dos pedidos de uma união plena que nos foram submetidas por parte de fiéis ex-anglicanos provenientes de diversas regiões do mundo nos últimos anos. Com esta proposta, a Igreja tenciona responder às legítimas aspirações destes grupos anglicanos a uma comunhão plena e visível com o Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro".

Estes Ordinariatos pessoais serão instituídos, segundo as necessidades, com a prévia consulta das Conferências Episcopais locais, e as suas estruturas serão de certo modo semelhantes às dos Ordinariatos militares, que foram erigidos em muitos países para prover ao cuidado pastoral dos membros das forças armadas e dos seus funcionários no mundo inteiro. "Os anglicanos que entraram em contacto com a Santa Sé manifestaram claramente o seu desejo de uma comunhão plena e visível na Igreja una, santa, católica e apostólica. Ao mesmo tempo, eles falaram-nos da importância das suas tradições anglicanas, relativas à espiritualidade e ao culto para o seu próprio caminho de fé", afirmou o Cardeal Levada.

A iniciativa desta nova estrutura está em sintonia com o compromisso em prol do diálogo ecuménico, que continua a ser uma prioridade para a Igreja católica, de forma particular através dos esforços envidados pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos. "Esta iniciativa provém de vários grupos de anglicanos", acrescentou o Cardeal Levada. "Eles declararam que compartilham a comum fé católica, como é expressa no Catecismo da Igreja Católica, e que aceitam o ministério petrino como um elemento desejado por Cristo para a Igreja. Para eles, chegou a hora de manifestar esta união explícita numa forma visível de comunhão plena".

Segundo o Cardeal Levada: "O Santo Padre Bento XVI faz votos a fim de que os clérigos e fiéis leigos anglicanos, desejosos da união com a Igreja católica, encontrem nesta estrutura canónica a oportunidade de preservar aquelas tradições anglicanas que são preciosas para eles e em conformidade com a fé católica. Enquanto exprimem de modo distinto a fé professada de maneira conjunta, tais tradições constituem uma dádiva que deve ser compartilhada na Igreja universal. A união com a Igreja não exige a uniformidade que ignora as diversidades culturais, como demonstra a história do Cristianismo".

"Além disso, as numerosas e diversificadas tradições hoje presentes no interior da Igreja católica estão arraigadas inteiramente no princípio formulado por São Paulo na sua Carta aos Efésios: "Um só Senhor, uma única fé, um só baptismo" (4, 5). Por conseguinte, a nossa fé é revigorada por semelhantes diversidades legítimas, e portanto estamos felizes porque estes homens e estas mulheres oferecem as suas contribuições particulares para a nossa comum vida de fé".

Informações contextuais

Desde o século XVI, quando o rei Henrique VIII declarou a independência da Igreja de Inglaterra da autoridade do Papa, a Igreja de Inglaterra criou as suas próprias confissões doutrinais, hábitos litúrgicos e práticas pastorais, incorporando muitas vezes ideias da Reforma que teve lugar no continente europeu. A expansão do Reino britânico, unida ao apostolado missionário anglicano, comportou sucessivamente o nascimento de uma Comunhão anglicana a nível mundial.

Ao longo dos mais de 450 anos da sua história, a questão da reunião entre anglicanos e católicos nunca foi posta de lado. Nos meados do século XIX, o Movimento de Oxford (na Inglaterra), demonstrou um renovado interesse pelos aspectos católicos do anglicanismo. No início do século XX, o Cardeal Mercier da Bélgica estabeleceu diálogos públicos com os anglicanos, com a finalidade de indagar sobre a possibilidade de uma união com a Igreja Católica, sob a bandeira de um anglicanismo "reunido, mas não absorvido".

O Concílio Ecuménico Vaticano II alimentou ulteriormente a esperança de uma união, de modo particular através do Decreto sobre o ecumenismo (cf. n. 13) que, fazendo referência às Comunidades separadas da Igreja católica no período da Reforma, reiterou: "Entre aquelas [comunhões] nas quais continuam a subsistir parcialmente as tradições e as estruturas católicas, a Comunhão anglicana ocupa um lugar especial". A partir do Concílio Vaticano II, as relações entre anglicanos e católicos romanos criaram um clima de compreensão e cooperação mútua. A Anglican-Roman Catholic International Commission (ARCIC) emanou uma série de declarações doutrinais ao longo dos anos, na esperança de lançar a base para uma união plena e visível. Para numerosos pertencentes às duas Comunhões, as declarações emanadas pela ARCIC puseram à disposição um instrumento em que pode ser conhecida a expressão conjunta da fé. É em tal moldura que se deve contextualizar esta nova iniciativa.

Nos anos sucessivos ao Concílio, alguns anglicanos abandonaram a tradição de conferir as Ordens sagradas somente aos homens, chamando ao presbiterato e ao episcopado também as mulheres. Mais recentemente, alguns segmentos da Comunhão anglicana afastaram-se do comum ensinamento bíblico a respeito da sexualidade humana já claramente expresso no documento da ARCIC "Vida em Cristo" conferindo as Ordens sagradas a clérigos abertamente homossexuais e abençoando as uniões entre pessoas do mesmo sexo. Não obstante, enquanto a Comunhão anglicana deve enfrentar estes novos e difíceis desafios, a Igreja católica permanece plenamente comprometida no seu diálogo ecuménico com a Comunhão anglicana, de maneira particular através da actividade levada a cabo pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

Entretanto, muitos anglicanos entraram individualmente na plena comunhão com a Igreja católica. Às vezes entraram também grupos de anglicanos, conservando uma determinada estrutura "corporativa". Isto teve lugar, por exemplo, no caso da diocese anglicana de Amritsar, na Índia, e inclusive de algumas paróquias individualmente nos Estados Unidos da América que, embora tenham conservado uma identidade anglicana, entraram na Igreja católica no contexto de uma chamada "providência pastoral", adoptada pela Congregação para a Doutrina da Fé e aprovada pelo Papa João Paulo II em 1982.

Nestes casos, a Igreja católica dispensou frequentemente do requisito do celibato, admitindo que esses clérigos anglicanos casados que desejam dar continuidade ao serviço ministerial como sacerdotes católicos sejam ordenados na Igreja católica. Em tal contexto, os Ordinariatos pessoais instituídos em conformidade com a supramencionada Constituição Apostólica podem ser vistos como um ulterior passo rumo à realização da aspiração da união plena e visível na única Igreja, que é uma das finalidades principais do movimento ecuménico.

(© L'Osservatore Romano - 24 de Outubro de 2009)

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