Os números são de um inquérito promovido em 2006 pela União dos Superiores Maiores (USG, da sigla italiana), que reúne os responsáveis das congregações católicas.
Esta rede envolve três mil padres e freiras, 16 mil voluntários e 15 mil funcionários. Os resultados foram apresentados em Roma, em Maio de 2008, pela missionária comboniana Maria Martinelli. A própria afirmou, na ocasião, que por vezes o preservativo é necessário.
Os dados não incluem projectos desenvolvidos por organizações não-governamentais católicas. A rede católica de combate à SIDA/AIDS representa 27 por cento das instituições no mundo, segundo dados do Vaticano.
Nestas instituições, dá-se preferência ao tratamento anti-retroviral, prevenção da transmissão mãe-filho, aconselhamento, informação e erradicação do estigma. "O problema da sida é maior que o preservativo", diz ao PÚBLICO outra missionária que trabalha com o projecto da USG.
Ana Maria Francisco, médica e religiosa da congregação Filhas de África, é uma das responsáveis do Instituto Nacional de Luta Contra o SIDA/AIDS para a província do Huambo (Angola). E fundou uma organização para o apoio a doentes de SIDA: Otchi Mumga (solidariedade, em umbundo). "Surgiu da necessidade de ajudar as pessoas."
Na polémica sobre o preservativo que esta semana atravessou a viagem do Papa, a irmã Ana Maria desvaloriza. "A Igreja defende a fidelidade e a abstinência", diz. "O meu testemunho é de alertar para a sexualidade responsável. Em último caso, aconselho o preservativo."
De acordo com o inquérito da USG, só em África há mil hospitais, mais de 5000 dispensários e 800 orfanatos ligados a congregações religiosas - muitos deles incluem o acompanhamento de doentes de sida. No continente, estão 70 por cento dos infectados pelo HIV-SIDA/AIDS.
Ainda referindo o que se passa em África, a maioria das instituições tem projectos na área da educação e informação (96 por cento dos 800 projectos). Seguem-se a erradicação do estigma (72 por cento), os testes e aconselhamento (48), o tratamento anti-retroviral (39) e a prevenção da transmissão mãe-filho (27) - muitas delas trabalham diferentes áreas.
Maria Martinelli notava, na apresentação do relatório, que uma das dificuldades destas instituições é o reduzido número de laboratórios disponíveis - apenas 16 por cento. A par da pobreza, e da falta de medicamentos e financiamento.
Um dos projectos não incluído no inquérito é o Dream, promovido pela Comunidade de Sant'Egídio desde 2002. Com 31 centros em 10 países africanos, o programa já atingiu cerca de um milhão de pessoas. Em declarações ao PÚBLICO, Steffano Scapparucci, um dos coordenadores do projecto, diz que a prioridade é dar às pessoas as mesmas terapias disponíveis no Ocidente, de modo a reduzir o contágio. "Acreditamos que o melhor tipo de tratamento, dado gratuitamente, é necessário também em África."
Foi com essa ideia que o programa criou 18 laboratórios de biologia molecular - três dos quais em Moçambique. O Dream centra-se muito na prevenção da transmissão mãe-filho, mas actua também noutras áreas - como os 3300 profissionais africanos já formados. Sete mil crianças já nasceram sãs em virtude da prevenção - cada uma custou 400 euros, cada paciente custa anualmente 600 euros.
Também Scapparucci diz que o preservativo não é problema. "Em África, a mulher é muito débil. Com a poligamia, é muito difícil impor o uso do preservativo. Há um problema cultural, em primeiro lugar. O que temos que mostrar é que, com a terapia, é possível ter uma vida com futuro."
Resultado? Centenas de mulheres que beneficiaram do projecto tornaram-se "activistas", dando a cara, formando e sensibilizando outras.
António Marujo
(Fonte: Público online em http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1370359 )
António Marujo
(Fonte: Público online em http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1370359 )
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