21. Os problemas submetidos aos Padres sinodais interpelam profundamente a consciência cristã. Estes problemas encontram-se não apenas na sociedade mas, também, na própria Igreja, porque os cristãos são também filhos e filhas das suas sociedades. «As Igrejas de África (…) carregam todas em si esta fragilidade da situação actual dos Países africanos a todos os níveis institucionais, financeiros, teológicos, culturais e até jurídicos». Podemos reagrupá-los em três áreas: política, económica e cultural.
1. A área sociopolítica
22. Nestes últimos anos, no plano político, despontaram sinais que fazem esperar uma maturação das consciências cívicas: uma sociedade civil activa faz-se cada vez mais visível na luta pelos direitos humanos; homens e mulheres políticos mostram-se desejosos do renascimento do continente em todos os aspectos, e a preocupação por uma resolução inter-africana dos conflitos, testemunhada aqui e além, atesta que certas pessoas das classes políticas africanas possuem uma consciência aguda de que lhes incumbe educar politicamente os seus povos e guiar as suas nações para uma via de paz e de prosperidade.
23. Contudo, a sociedade continua a lutar para se libertar de múltiplos entraves. Alguns dirigentes políticos dão sinais de insensibilidade quanto às necessidades do seu povo, procuram os seus interesses pessoais, desprezam as noções de bem comum, perdem o sentido de Estado e dos princípios democráticos, elaboram políticas tendenciosas, facciosas, de clientelismo, etnocêntricas, e fomentam a divisão para reinar. Nalguns lugares, os partidos no poder tendem a identificar-se com o Estado. A noção de autoridade concebe-se então como “poder” – partido no poder, partilha de poderes – e não como “serviço” (cf. Mt 20,24ss; ver também 1 Rs 3). Por outro lado, verificamos, que infelizmente homens e mulheres na política evidenciam uma falta de cultura grave em matéria política, violam sem qualquer escrúpulo os direitos humanos e instrumentalizam a religião, tanto quanto as instituições religiosas, das quais ignoram, por outro lado, a missão e a função na sociedade. Não é de estranhar, por isso, que aos diferendos políticos eles se oponham com respostas beligerantes. A falta de consciência e de educação cívica dos cidadãos é, então, explorada em detrimento destes últimos. Ora, só um ambiente político estável pode favorecer o progresso económico e o desenvolvimento sociocultural.
INSTRUMENTUM LABORIS I, 21 – II, 1, 22-23
(Fonte: site da Santa Sé)
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