Na audiência de 12 de Maio
passado, o Papa contou um milagre que acompanhou de muito perto quando estava
em Buenos Aires.
— «Um casal tinha uma filha de 9
anos com uma doença que não se conseguia diagnosticar, até que os médicos foram
ter com a mãe e lhe disseram: “Minha senhora, chame o seu marido”. O marido
estava no trabalho; eram operários e tinham de trabalhar todos os dias. E informou
o pai: “A criança não passa desta noite. É uma infecção, não se pode fazer
nada”. Aquele homem talvez não fosse à Missa todos os Domingos, mas tinha uma
grande fé. Saiu a chorar, deixou a mulher com a filha no hospital, apanhou o
comboio e fez a viagem de 70 quilómetros até à basílica de Nossa Senhora de
Luján, padroeira da Argentina. Quando lá chegou a basílica estava fechada, eram
quase dez da noite, agarrou-se às grades da basílica e ficou a rezar toda a
noite a Nossa Senhora, lutando pela saúde da filha. Isto não é uma fantasia; eu
vi-o! Eu vivi isto. Aquele homem ali, a lutar. Por fim, às seis da manhã
abriram a igreja e ele entrou para saudar Nossa Senhora: toda a noite “lutou” e
depois foi para casa. Quando chegou, procurou a mulher, mas não a encontrou e
pensou: “Foi-se embora. Não, Nossa Senhora não me pode fazer isto”. Depois
encontrou-a e ela disse-lhe sorridente: “Não sei o que se passou; os médicos
dizem que a situação se alterou e agora está curada”. Aquele homem, que lutava
com a oração, obteve de Nossa Senhora a graça. Nossa Senhora ouviu-o. E eu vi
isto: a oração faz milagres, porque a oração vai directa ao centro da ternura
de Deus que nos ama como um pai».
Recordei imediatamente esta
história quando recebi hoje de manhã uma mensagem de correio electrónico: «Estou
internado no IPO. Recidiva da leucemia que tive há 4 anos atrás. Um verdadeiro
choque! Tive de me reorganizar e hoje, internado, procuro luz e sentido a tudo
o que está a acontecer comigo. Encontro forças na oração e por isso agradeço
também as orações dos familiares e amigos e conto contigo».
Peguei imediatamente no telefone
para falar com este meu amigo. Falámos até que os tratamentos nos obrigaram a
interromper a conversa. Dizia-me que rezava. Mais que pedir a cura, pedia para
aproveitar bem estas circunstâncias por onde Deus o leva. E eu lembrei-me mais
uma vez da audiência do Papa porque, depois de contar a história do milagre a
que tinha assistido, acrescentou:
— «Quando Deus não nos concede
uma graça, dar-nos-á outra que veremos a seu tempo. Mas é sempre preciso lutar na
oração para pedir uma graça. Sim, por vezes pedimos uma graça de que
precisamos, mas pedimo-la assim, sem querer, sem lutar; não é assim que se
pedem coisas sérias. A oração é uma batalha e o Senhor está sempre connosco».
O Papa falou muito de luta nesta
audiência. De luta connosco próprios mas também de luta com Deus. Talvez seja a
isto que Cristo se referia quando disse que «o Reino dos Céus sofre violência e
são os violentos que se apoderam dele» (Mt 11, 12). S. Paulo nunca teve
oportunidade de visitar a cidade de Colossas, na Frígia, mas enviou-lhes
Epafras, um seu colaborador, e depois escreveu-lhes uma carta. Nas despedidas,
ao enviar a saudação de uns e de outros, dá-lhes notícias de Epafras:
«Saúda-vos Epafras, vosso compatriota, que está sempre a lutar por vós na
oração, para que vos mantenhais perfeitos e cumprais tudo o que Deus quer. Sou
testemunha do muito que trabalha por vós» (Col. 12-13). A palavra original
significa «está sempre a lutar» e a tradução latina é fiel a este sentido:
«semper certans».
A relação com Deus é tão forte
que faz falta a palavra «luta» para dar a medida do que é a oração. Não por ser
agressiva, mas pela intensidade de quem conhece a ternura de pai com que Deus
nos ama. Ele ouve-nos sempre, disse o Papa nesta audiência:
— «Se num momento de cegueira não
conseguirmos vislumbrar a sua presença, consegui-lo-emos no futuro. Também nós
um dia poderemos repetir a frase que o patriarca Jacob disse certa vez: “Em
verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia!” (Gen 28, 16). No final
da nossa vida, olhando para trás, também nós poderemos dizer: “Pensava que
estava sozinho; não, não estava: Jesus estava comigo”. Todos
poderemos dizer isto».
José Maria C.S. André
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