Foi há alguns dias que, na espaçosa capela de um colégio, presenciei uma cena que me deu que pensar. Celebrava, como habitualmente, a eucaristia das 8h e 10m da manhã, a que assistem alguns alunos, professores e pais, estes últimos aproveitando a sua ida à escola para deixar os filhos.
Entre a assistência, variada mas não muito numerosa, chamou-me a atenção uma senhora ainda nova, que se fazia acompanhar por vários filhos, com idades entre os dois e seis anos. Uma das mais pequeninas dessas crianças, ainda de palmo e meio, insistia em sentar-se ao colo da mãe, apesar da abundância de lugares disponíveis. Naquele momento, pareceu-me abusiva aquela sua atitude, mas não era caso para fazer uma chamada de atenção pública, não só porque seria despropositada, mas também porque teria sido desagradável para a pequenita e também para a sua progenitora.
O que não me atrevi a dizer em voz alta, sussurrei, contudo, na minha oração a Jesus:
- Já viste, Senhor, a pieguice daquela pequenita?! Que mimada! Há tantos lugares vagos e foi logo sentar-se ao colo da mãe!
Mal tinha terminado a minha queixa quando me dei conta de que, na imagem de Nossa Senhora desse oratório, o Menino Jesus está muito bem instalado … nos braços de sua Mãe! Escusado será dizer que enfiei a carapuça, ao mesmo tempo que me senti uma espécie de Dom Camilo resmungão, a quem Nosso Senhor teve que responder à letra. Afinal, era ela, a pequenita, que tinha razão, segundo o ensinamento dos Evangelhos: “Em verdade vos digo: Se não voltardes a ser como as criancinhas, não podereis entrar no Reino do Céu” (Mt 18, 3).
Nas suas deliciosas Memórias, a Irmã Lúcia recorda que, quando era ainda muito pequena, pensava ingenuamente que a sua mãe era a melhor do mundo. Por isso, quando perguntava às suas companheiras de brincadeiras como eram as suas mães, atalhava sempre, sem qualquer tipo de presunção ou orgulho, que a sua era a melhor do mundo. Não errava na sua apreciação porque, com efeito, como cada um de nós só tem uma mãe, essa é, para o filho, necessariamente, a melhor do mundo. Pode não ser a melhor pessoa da humanidade, nem a mais perfeita mulher à superfície da terra, mas como mãe é, sem dúvida, a melhor do mundo para os seus filhos.
Tinha sido o pai da Lúcia que lhe ensinara a amar assim a sua mãe. Agora que tanto se fala, infelizmente, de violência doméstica – só no que vai de ano, há já a deplorar 11 vítimas mortais! – mais necessário é que os maridos sejam, para os filhos, uma lição de que as suas mães são as melhores do mundo, pelo exemplo do seu amor filial e esponsal. Que cada filho o saiba, não apenas porque alguém o diz, mas porque vê o carinho, respeito, gratidão e admiração como a sua mãe é tratada pelo pai e, também, como os seus pais tratam os avós! Quantos casos de violência doméstica, contra os pais e avós idosos, não têm criminosos antecedentes em episódios de abandono dos mais velhos, de violência doméstica ou de falta de carinho e respeito nas relações conjugais!
Concluída a celebração da Missa, voltei a lançar um olhar para aquela pequenita, já não com a reprovação do início, mas com compreensão e – porque não dizê-lo?! – uma pontinha de inveja … Teria desejado também eu permitir-me aquele luxo há já muitos anos perdido mas, como dissera o velho Nicodemos a Jesus de Nazaré: “porventura poderá [alguém] entrar no ventre de sua mãe outra vez, e nascer?” (Jo 3, 4).
Beijado o altar e feita a genuflexão ao Santíssimo Sacramento, antes de me retirar para a sacristia, lancei um olhar, que era uma oração, para a imagem de Nossa Senhora:
- Neste mês de Maria, peço a Jesus que me deixe sentar no outro braço da sua e nossa Mãe do Céu. E, a Nossa Senhora, supliquei que me concedesse a graça do seu colo, para que, junto ao seu Coração Imaculado, aprenda a amar Jesus e, em Cristo, todos os meus irmãos.
Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada in Voz da Verdade
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