Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

terça-feira, 7 de maio de 2013

'Lembrando Josué de Castro' pelo Prof. Adriano Moreira

Num inquérito oportuno da RTP, intitulado "Ler, Ler melhor", em busca, junto de cada inquirido, de saber qual foi "o livro da minha vida", e as razões de escolha, escolhi, entre vários, aquele que mais tem a ver com a situação trágica, que se agrava diariamente, nesta Europa que governou o mundo, e no país que é nosso e sofre as consequências do novo-riquismo que se foi sobrepondo às diferenças ideológicas invocadas durante meio século de Guerra Fria.

Destaquei, como mais indicado e de previsões confirmadas, um facto de que a realidade nos tem desabituado, o livro de Josué de Castro, Geografia da Fome (1946), que fez dele um cidadão do mundo.

Brasileiro, nascido num tempo em que a sua pátria ainda não era a potência emergente da atualidade, mereceu este comentário de Pearl Buck, Prémio Nobel da Literatura: "É este o livro mais encorajador, mais esperançoso e mais cordial que já li em toda a minha vida... ler este livro tão expressivo, tão claro em seu pensamento, tão racional na exposição dos factos científicos, tão sábio em suas sugestões acerca de novas formas de conhecimento, é encontrar uma renovada esperança para a humanidade."

Embora também na sua terra vigore frequentemente o princípio de que santos da casa não fazem milagres, ele foi ali em vida uma exceção, exceto junto do Governo da época. E se há razão para de novo ser lembrado, é porque a própria ONU, já no século passado, publicou dois relatórios em que se advertia que a miséria no mundo era uma ameaça tão grave como a das armas de destruição maciça.

Por esse tempo, homens com a responsabilidade de Luís Echeverría Álvarez, presidente do reunificado México, reconhecia que "pela memória e pelo coração, rejubilamo-nos por este brasileiro extraordinário que connosco lutou para fazer reinar a justiça e a solidariedade internacionais. Josué de Castro não é mais um de nós".

Todavia, nesta crise que globalmente se agrava, ele é um de nós, quando, a partir do seu texto, não pode ignorar-se a responsabilidade que governanças ineficazes e mal esclarecidas assumiram pela situação a que a população, com dimensão crescente no globo, agora também entre os ocidentais, foi conduzida, porque as vozes encantatórias capazes de movimentar o esforço cívico das sociedades civis foram caladas por uma teologia de mercado sem paradigma ético reconhecido, esta a inquietação que orienta as investigações de Kung, e agora a nova evangelização do Papa Francisco.

Mas para manter as coisas no plano agnóstico das Constituições, democráticas por herança histórica recebida, ou imperativas pelo direito internacional que a ONU consagrou, há uma leitura obrigatória para os governos de todo o mundo, e também para os ricos e pobres da Europa, que é a Declaração Adotada pela Assembleia Geral da ONU, com o número 66/228, intitulada "O Futuro que nós queremos", documento resultante da Conferência da ONU sobre o desenvolvimento durável.

Talvez ajude, entre nós, a reconhecer que, além da Constituição da República Portuguesa, e da suposta sabedoria da troika, existe o paradigma global da ONU, ao qual todos os países da organização estão obrigados.

Em vista das notícias sobre a validade da ciência em que se baseia a imposta política de austeridade, e a fadiga tributária que atinge a sociedade civil, convém não esquecer que anteriores às obrigações perante a troika existem sérias obrigações internacionais a que o Estado português também está obrigado.

O problema da relação entre capacidades e deveres de Estado só pode ser dimensionado avaliando a rede de deveres existentes, tendo em vista, internacionalmente, "O Futuro que nós queremos". É certo que o poder não coincide sempre com o querer, mas essa circunstância não dispensa manter presentes obrigações assumidas como diretivas, que não são apenas para animar os discursos, são para condicionar a ação dos responsáveis em função de uma escala de valores assumidos em nome do país.

Adriano Moreira in DN online http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3204165&seccao=Adriano%20Moreira&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco&page=-1

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