Concluiu-se no Brasil o congresso do Conselho indigenista missionário
Identificar novas estratégias para a tutela e a defesa dos direitos humanos das populações indígenas. Eis, em síntese, o objectivo que há anos a Igreja no Brasil persegue e que foi reafirmado durante o congresso "Raízes, identidade e missão", que teve lugar em Luziânia, organizado pelo Conselho indigenista missionário (CIMI), organismo da Conferência nacional dos bispos do Brasil (CNBB). Participaram no encontro mais de duzentos e cinquenta pessoas provenientes de todo o país.
"A identidade do CIMI - declarou o presidente do Conselho indigenista missionário, bispo da prelazia do Xingu, D. Erwin Kräutler, durante a missa de inauguração do congresso que celebra quarenta anos da organização - é a aliança com os povos indígenas, a fim de que eles não percam a própria identidade". Na opinião de D. Kräutler, "a pior coisa que pode acontecer com um povo é perder a sua identidade", precisamente por este motivo ao longo dos seus quarenta anos de existência o Conselho indigenista missionário ajudou as populações indígenas do Brasil a preservar a própria identidade. "Neste período - frisou o presidente do CIMI - o nosso organismo aprendeu muitos dos indígenas. Com efeito, terminaram os tempos em que trabalhávamos a favor das populações indígenas sem as incluir no nosso percurso. Elas não são objecto da nossa caridade, mas verdadeiras protagonistas da própria história, e nós somos seus aliados".
Durante a sua intervenção, D. Kräutler realçou que o CIMI nunca se quis associar a qualquer facção ou partido político. "A nossa bandeira - disse - é a vida das populações indígenas. Deste modo temos a coragem de enfrentar uma política anti indígena, que ainda permanece em vigor no país.
Um dos problemas que diz respeito em particular às populações indígenas no Brasil são os grandes projectos que, além de ter um impacto enorme sobre o meio ambiente, geram lucros para alguns e causam numerosas desigualdades sociais nas cidades onde se realizam. Com efeito, segundo quanto sobressaiu do último relatório do CIMI, a corrida ao monopólio ilegal das terras indígenas tuteladas pela constituição não conheceu trégua nos últimos anos, registando um aumento dos conflitos perante uma maior resistência dos povos nativos, cada vez mais decididos em defender os próprios direitos. Só no ano passado se registraram 99 disputas num país no qual 1% de 191 milhões de habitantes controla 46% das terras cultiváveis. Focos de tensão persistem principalmente no norte da Amazónia em torno do controverso projecto de Belo Monte, a super usina hidroeléctrica no rio Xingu, concebida para se tornar a terceira do mundo. "A Amazónia - reafirmou em diversas ocasiões o bispo da prelazia de Cametá, D. Jesús María Cizaurre Berdonces - é considerada ainda hoje uma colónia, onde as pessoas chegam, recolhem as matérias-primas, enriquecem-se e depois vão embora. Este é um modelo capitalista, adoptado pelo Governo na região da Amazónia, que não considera o povo daquela região. Para eles, as pessoas são apenas um pormenor que impede o desenvolvimento. Mas existe - concluiu o bispo - também outro modelo recomendado pela Igreja, cuja finalidade é a tutela das populações indígenas. A Igreja apoia a promoção da agricultura familiar e pensa que os lucros da riqueza devem permanecer na Amazónia, envolvendo todas as populações locais".
(© L'Osservatore Romano - 1 de Dezembro de 2012)
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