Jean Tauler (c. 1300-1361), dominicano de Estrasburgo
Sermão 49, 1º para o 12º domingo depois da Trindade
Temos de examinar de perto o que torna um homem surdo. Por ter escutado as insinuações do inimigo, por ter ouvido as suas palavras, o primeiro casal dos nossos antepassados foi o primeiro a ficar surdo. E nós também, a seguir a eles, de modo que já não conseguimos ouvir ou compreender as inspirações amorosas do Verbo Eterno. E, no entanto, sabemos bem que o Verbo Eterno está no fundo do nosso ser, mais inefavelmente perto de nós e em nós do que o nosso próprio ser, na nossa própria natureza, nos nossos pensamentos; nada do que podemos nomear, dizer ou compreender está tão perto de nós e nos está tão intimamente presente como o Verbo Eterno. E o Verbo fala sem cessar no homem. Mas o homem não consegue ouvir, devido à grande surdez que o aflige. [...] Do mesmo modo, foi de tal maneira atingido nas suas outras faculdades que também se tornou mudo e já não se conhece a si próprio. Se quisesse falar do seu interior, não conseguiria fazê-lo, pois não sabe qual é a sua situação e não reconhece o seu próprio modo de ser. [...]
O que é então esse murmurar incomodativo do inimigo? É toda a desordem cujo reflexo ele te mostra e te persuade a aceitar, servindo-se do amor ou da procura das coisas criadas, deste mundo e de tudo o que lhe está ligado: bens, honrarias, até mesmo amigos e pais, até a tua própria natureza, resumindo, tudo o que te traz o gosto dos bens deste mundo decaído. É disso tudo que é composto o seu murmurar. [...]
Então vem Nosso Senhor: mete o Seu dedo sagrado no ouvido do homem, aplica-lhe saliva na língua, permitindo-lhe recuperar a palavra.
(Fonte Evangelho Quotidiano)
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