Os peritos ou apenas observadores e comentadores da evolução da crise europeia, mais testemunhas das insuficiências das medidas que cada governo ou instituição adota, de que contribuintes quanto às medidas a tomar e em função de que objetivo europeu, talvez não consigam adiantar inovações além das já propostas ou sugeridas, de regra afirmando a deficiente atenção ou capacidade dos governos.
Do ponto de vista internacional e ocidental, incluindo o obscuro calendário das intervenções públicas das agências de avaliação, os prognósticos sobre o destino do euro parecem ser os mais relevantes na temática corrente e repetitiva.
Enquanto o tempo corre, sem permitir uma leitura de probabilidades, os ministros dos orçamentos esgotam-se para expropriar todos os recursos acessíveis para combater a chamada dívida soberana, até agora mais tolerantes, por necessidade assumida, com o facto de a economia ser orientada pela natureza das coisas, que raramente mostra a esperança entre as suas variáveis.
Que não se conheçam responsáveis assumidos pelo descontrolo do sistema não impede que especialistas avalizem que são importantes as iniciativas de reforma do sistema bancário para evitar a reprodução de crises recorrentes, e que o Banco Central Europeu (BCE) forneceu aos estabelecimentos financeiros a liquidez de que tinham necessidade evitando uma falência geral do sistema.
Mas, agudizando a imagem da União Europeia, fazem-se ouvir vozes americanas ou orientais, que a responsabilizam por um qualquer eventual desastre da economia mundial. Tudo significa que, também neste domínio, a culpa vai morrer solteira, e uma das economias a fazer é não esbanjar o pouco tempo disponível em averiguações.
Talvez seja porém tempo de rever a situação da institucionalização da Europa, meditando por exemplo sobre a penumbra que iniciativas partilhadas entre a Alemanha e a França lançam sobre os centros responsáveis do Tratado de Lisboa, e designadamente sobre o espaço do Banco Central Europeu, os limites da sua competência legal no socorro financeiro de última instância sem o apoio de um governo da zona que não falta aos Bancos Centrais. O que inevitavelmente coloca em evidência a questão institucional que o Tratado de Lisboa mostra excessivamente que não resolveu.
Já era suficiente que o globalismo tenha desenvolvido um emaranhado de círculos, financeiros, económicos, religiosos, ideológicos, de segurança ou criminalidade, sem centros visíveis e identificáveis. No que respeita à União, as tensões internas crescem, aprofunda-se a distinção entre ricos ao norte, e pobres abrangidos pela fronteira que ultrapassou as margens do Mediterrâneo, acrescentando-se a falta de uma disciplina económica, as divergências partidárias e governamentais sobre a economia, as finanças, e o Estado social. Tornam-se evidentes dois aspetos fundamentais: o conceito estratégico, necessariamente comum, da Europa no mundo e em resposta ao mundo, e a lógica organizativa de órgãos responsáveis pela governança.
A dimensão e composição da Comissão tem que ver com o recrutamento e capacidade dos membros geralmente desconhecidos pelos cidadãos; no que toca à política da União, um tema tocado pela anarquia do globalismo, está confusamente repartida pelo presidente do Conselho Europeu, pelo alto-representante para a PESC, com a temática geral repartida pelos Conselhos de Ministros de presidência rotativa.
A experiência pode sempre corrigir as deficiências normativas. Mas os exemplos exigem tempo, que neste caso dificilmente está disponível para ser perdido. A deficiente salvaguarda do conceito estratégico da União e a falta de racionalização da estrutura de governança agravam a urgência de impedir que a voz da Europa enfraqueça.
Adriano Moreira in DN online
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