Livro II, caps. 5-6 (Moraes Editora)
Muitas vezes não nos damos conta de como somos interiormente cegos. Muitas vezes agimos mal e desculpamo-nos pior. Às vezes somos movidos pela paixão e julgamos ser por zelo. Repreendemos coisas pequenas nos outros e passamos sobre as nossas, bem maiores. Depressa sentimos e pesamos o que aguentamos dos outros, mas não nos damos conta de quanto eles sofrem por nós. Aquele que pesasse bem e rectamente as suas acções, não haveria nada que julgasse duramente nos outros.
O homem que vive pelo espírito prefere o cuidado de si mesmo a todos os cuidados; e quem se vigia atentamente facilmente se cala sobre os outros. Nunca serás interior e piedoso se não te calares sobre os outros e olhares especialmente para ti. [...] A alma que ama a Deus despreza todas as coisas que Lhe estão abaixo. Só Deus eterno e imenso, enchendo tudo, é consolação da alma e verdadeira alegria do coração. [...]
Repousarás calmamente se o teu coração de nada te acusar. Não te alegres senão quando fizeres o bem. Os maus nunca têm verdadeira alegria, nem experimentam paz interior; porque «não há paz para os pecadores» (Is 48,22). [...] Facilmente estará contente e em paz aquele cuja consciência está limpa. Não és mais santo porque te louvam nem mais pecador porque te injuriam. És aquilo que és; e tudo o que disserem de ti não te fará maior do que és aos olhos de Deus. Se atenderes ao que és interiormente, não te preocuparás com o que os homens dirão de ti. «O homem vê a cara, mas Deus o coração» (1Sm 16,7).
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
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