Costumava S. Josemaría fazer notar aos homens de empresa que o seu primeiro negócio era a família; primeiro «negócio», tanto por constituir a sua primeira responsabilidade, como por ser a principal riqueza a cuidar e o mais importante futuro a construir.
Esta recomendação também a faz o Santo Padre na encíclica «Caritas in Veritate». Se a vida económica se inscreve num tecido de gratuidade, isso é especialmente óbvio nas relações domésticas, de amor e serviço mútuos, sem objectivos de lucro individual. «Os Estados são chamados a instaurar políticas que promovam a centralidade e a integridade da família, fundada no matrimónio entre um homem e uma mulher, célula primeira e vital da sociedade». (nº 44)
Sendo a família, de facto, a primeira «célula social», não pode deixar de ser a primeira «célula económico-financeira». Do seu bom ou mau «funcionamento» dependem as qualidades do mercado: a laboriosidade, a solidariedade, a sobriedade, a ordem, a distribuição, a poupança. Porque a família não se reduz a um grupo de consumidores do «cabaz de compras», mas começa por ser escola de produção, de aplicação do dinheiro, de prospecção, gestão e contabilidade.
Usando o que costuma dizer-se da diferente visão económica entre o sul e o norte («em Lisboa sabe-se o que vale o dinheiro; no Porto sabe-se o que custa»), sem a experiência familiar, não se sabe o que ele custa, mas apenas o que vale, e o ambiente dos negócios torna-se um mundo de valores virtuais, cuja falsidade acaba mais tarde ou mais cedo por desmoronar.
Por isso, tanto os políticos como os empresários devem estar interessados na «saúde» das famílias. É hábito falar-se da «atomização» da sociedade ao tratar das consequências do individualismo, ou egoísmo, que é dizer o mesmo. Mas essa expressão tem contornos mais sinistros do que parece à primeira vista: quando esse núcleo social se rompe, dá-se uma verdadeira explosão atómica, ou literalmente, «nuclear». A sociedade parte-se aos bocados, o mercado torna-se caótico, a riqueza vai parar aonde menos se espera, há feridos e mortos por toda a parte…
A crise actual tem muito a ver com a degradação dos lares. Neles se criam, conservam e transmitem os valores morais, incluindo os sócio-economicos. Não se acredite no fim da crise económico-financeira enquanto não passe a tremenda crise familiar que continua a ser promovida e a agravar-se no mundo.
Pe. Hugo de Azevedo
In Boletim da Capelania, no “site” da AESE – Escola de Direcção e Negócios AQUI
Agradecimento: blogue ‘filosorfico’ AQUI
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