A oração “pede escuta e resposta, solicita um contacto, procura uma relação que possa dar conforto e salvação”, mas “se Deus não responde, o grito de ajuda perde-se no vazio e a solidão torna-se insustentável”.
A pergunta que o salmista coloca no segundo dos 32 versículos do poema, “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”, foi mais tarde repetida por Cristo na cruz, dando voz a uma inquietação que atravessa a história judaica e cristã.
A dúvida de Jesus exprime toda a sua “desolação” perante o “drama da morte, realidade “totalmente contraposta” ao Deus da “vida”, apontou Bento XVI, para quem “a vitória da fé pode transformar a morte em dom da vida, o abismo de dor em fonte de esperança”.
O Salmo, um dos mais estudados da Bíblia, “eleva um lamento doloroso a Deus, que parece estar distante, mas o salmista, pela certeza de fé, sabe que virá em seu socorro”, referiu o Papa.
Para Bento XVI, o silêncio divino “mina o ânimo do orante”: “O salmista não pode crer que a relação com Deus tenha sido totalmente interrompida”, pelo que lhe pergunta “o motivo de um abandono tão incompreensível”.
A resposta ao dilema de uma divindade que na Bíblia é apresentada como toda-poderosa mas que aparentemente se mostra ausente das angústias humanas reside na confiança: “Nós também, na oração, aprendemos a discernir a realidade para além das aparências”.
Aos fiéis reunidos no auditório Paulo VI – a grande aula das audiências do Vaticano - o Papa apelou para se apoiarem “sobre a fé dos outros e sobre a fé da Igreja”, que testemunham a “fidelidade” divina: “Ao longo da história bíblica vemos Deus responder aos apelos do seu povo, dando-lhe a salvação”.
Nas palavras proferidas em língua portuguesa, Bento XVI saudou a presença dos membros da União Missionária Franciscana provenientes de Portugal e lembrou a festa litúrgica que a Igreja Católica assinala hoje: a Exaltação da Santa Cruz.
Queridos irmãos e irmãs,
Na catequese de hoje, tratamos do Salmo 22, uma oração sincera e tocante, com profundas implicações cristológicas, que se tornam visíveis durante a Paixão de Jesus, na sua dupla dimensão de humilhação e glória, de morte e vida. Este Salmo apresenta a figura de um inocente perseguido e cercado de adversários que querem a sua morte; por isso, eleva um lamento doloroso a Deus, que parece estar distante, mas o salmista, pela certeza de fé, sabe que virá em seu socorro. Como é sabido, o grito inicial do Salmo: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”, segundo os Evangelhos de Mateus e Marcos, foi assumido por Jesus durante a sua crucifixão, exprimindo assim toda a sua desolação diante do peso da humilhação e morte que supunha a sua missão salvífica. Mas, o grito de Jesus, à semelhança do salmista, não era um grito de desespero, mas de confiança na vitória divina, e por isso aberto ao louvor.
Dirijo a minha saudação amiga aos membros da União Missionária Franciscana, vindos de Portugal, aos brasileiros do Grupo Vocacional e a todos os demais peregrinos lusófonos aqui presentes. Neste dia da Exaltação da Santa Cruz, deixemo-nos invadir pela luz do mistério pascal, para reconhecermos o caminho da exaltação precisamente na humilhação, colocando toda a nossa esperança em Deus, e assim o nosso grito de ajuda transformar-se-á em cântico de louvor. E que a bênção de Deus desça sobre vós e vossas famílias! (Rádio Vaticano)
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