Eminência,
[...] o senhor escreveu um livro chamado Deus e o mundo,
no qual
disse que a sua posição como Prefeito da Congregação para a Doutrina
da Fé era a posição mais incómoda que já tinha ocupado. (O cardeal Ratzinger
ri tranquilamente) O que quis dizer com isso?
Sim, é uma
posição incómoda de muitas maneiras. Sobretudo porque, com frequência, somos
obrigados a enfrentar todos os problemas da Igreja: relativismo, heresias, teologias
inaceitáveis, teólogos complicados e o resto, juntamente com os casos disciplinares;
o problema dos pedófilos, por exemplo, também é problema nosso. Nesta Congregação,
temos de lutar com os aspectos mais complicados da vida da Igreja hoje.
Além disso,
somos atacados como "a Inquisição"; o senhor deve sabê-lo melhor do
que eu...
Isso por um
lado. Mas, por outro, comprovo todos os dias que as pessoas estão agradecidas
quando dizem: "Sim, a Igreja tem
uma identidade, uma continuidade; a fé é real e está presente também hoje, e é
possível professá-la..." E o mesmo quando vou à Praça de São Pedro e
vejo tantas pessoas de lugares tão variados do mundo que me dizem: "Obrigado, padre. Estamos agradecidos
pelo difícil trabalho que faz, porque nos ajuda". Muitos amigos
protestantes chegam também a dizer-me: "O
que o senhor vem fazendo é útil para nós porque também defende a nossa fé e a
validade da fé em Cristo.
Precisamos de
uma instância como a sua, mesmo quando não compartilhamos o que diz.
E é útil
também para ver que temos de prosseguir na contínua defesa da fé; o senhor alenta-nos
a perseverar na fé, a continuar a vivê-la". E nos últimos dias,
aproximou-se de mim uma delegação de ortodoxos que me disseram o mesmo.
Portanto, o nosso trabalho tem uma dimensão ecuménica que, com frequência, não
é apreciada.
(Cardeal
Joseph Ratzinger em ‘A crise da Igreja: uma fé fraca’, entrevista a Raymond Arroyo, canal de televisão EWTN,
Irondale -Alabama, 23.08.2003; repr. por Zenit, 24.08.2003)
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