O tempo de férias sumiu-se, deixando certamente as saudades dos dias calmos e reconfortantes. Retemperam-se forças, regressámos ao de sempre: o trabalho, a lufa-lufa, a família a que pertencemos. De certo modo, reencontramo-nos com nós mesmos. Somos quem somos e como somos, o panorama da vida voltou a ser o que era e como era. Esperam-nos as mesmas lutas, as mesmas pessoas, os mesmos horários, as mesmas angústias, o mesmo dia a dia.
É provável que o peso do tempo já percorrido por nós ao longo dos anos nos dê uma certa sensação de cansaço e de solidão. Mas não esqueçamos que ao nosso lado, se O procuramos, está o Senhor da nossa vida e da nossa razão de ser. Juntamente com Ele, a sua Mãe, que se está no céu em corpo e alma, acompanha sempre seu Filho nos seus desígnios de salvação.
Maria é a boa Mãe que nunca nos desampara e sempre se ocupa de nós com o seu amor maternal. E este tipo de amor tem sempre duas características bem delimitadas. Por um lado, é constante e afectivo, zeloso e delicado, prudente e exigente, como o de uma boa educadora; e, por outro, é o mais adequado, no modo como se realiza, ao que cada filho espera e aprecia nas relações com a sua mãe. Efectivamente, uma boa mãe gera dum modo espontâneo e natural o discernimento do que cada um dos seus filhos necessita do amor que ela lhes tem.
É sempre o mesmo amor para todos. Nunca há, porém, para uma boa mãe, dois filhos iguais. Por isso, não se perdoa a si mesma tratá-los de maneira uniforme. Um como que exige que lhe dirija uma palavra mais forte de apoio em circunstâncias difíceis; outro, que nada diga, porque se intimida com tal insinuação; o primeiro gosta de um doce especial que ela sempre fez nos seus anos; o segundo prefere, com o andar da idade, festejar o seu aniversário com os amigos; fazer ao primeiro um elogio pelas suas notas ou pelos seus triunfos profissionais, sabe-lhe a mel; ao segundo, é conveniente nada dizer e gozar caladamente os seus triunfos. Etc..
Maria é assim que nos trata, porque é a melhor entre todas as mães. Lembremo-nos que Deus a escolheu para ser a Sua. Ora Deus, escolhe sempre o melhor. Mas quis também que Ela fosse nossa Mãe, recordando, decerto, todo o carinho, todo o amor e todo o exemplo que dela recebeu, enquanto o educou e viu crescer em Nazaré. Na verdade, que outra Mãe melhor nos poderia ter dado Deus? Maria não aparece nos triunfos terrenos de Cristo, sobretudo quando entra triunfalmente em Jerusalém, vitoriado por uma imensa multidão que, alguns dias depois, O condena miseravelmente à morte na Cruz. Mas aí se encontra Ela, porque é uma boa Mãe e o seu Filho necessita da sua presença alentadora.
Não estamos, pois, sozinhos neste recomeço do ano laboral. Cristo e a sua Mãe acompanham-nos, passo a passo, porque desejam a nossa santidade e, por seu intermédio, a nossa salvação. Pode, por vezes, ser um pouco mais difícil encontrarmos Cristo na agrura dos caminhos que é preciso calcorrear na nossa vida. Nesses momentos, recorramos ao auxílio da nossa Mãe, que nos abraçará com o seu carinho e nos mostrará o Senhor, seu Filho. Encontrá-lo-emos, precisamente, nos incitamentos que sentimos dentro de nós a ser perseverantes, a levar a carga das dificuldades amparados no seu auxílio, a animar-nos a superar e a superar-nos perante os obstáculos que o dia a dia nos antepõe e a saber discernir o que é um verdadeiro degrau que é preciso subir de uma pedra de tropeço falsa que a nossa imaginação forjou e tanto nos atormenta.
Confiemos a Cristo e à Virgem Santíssima os nossos cuidados e não andemos pela vida como se Eles os dois não fossem, realmente, os nossos maiores amigos sempre atentos às nossas verdadeiras e reais necessidades.
(Pe. Rui Rosas da Silva – Prior da Paróquia de Nossa Senhora da Porta Céu em Lisboa in Boletim Paroquial de Setembro, título da responsabilidade do autor do blogue)
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