Exmo. Senhor Presidente da República
Aparece nos órgãos de comunicação social a “notícia” de que V. Exa. estaria a preparar o veto à vulgarmente chamada, “Lei dos casamentos homossexuais”.
Com toda a sinceridade não acredito muito nessa hipótese.
Com efeito, e se olharmos para trás, percebemos que em todos os momentos em que foi preciso o Presidente da República ter uma intervenção a favor dos valores que enformam a sociedade portuguesa, V. Exa. sempre decidiu de acordo com a minoria que grita mais alto e que se arroga do direito, (com uma pretensão de modernidade), de mudar tudo o que faz parte da cultura e dos valores da Nação Portuguesa.
Foi assim com a “Lei do Aborto”, com a “Lei para facilitar os divórcios”, para apenas focar estas, mas, curiosamente, quando a “Lei do Estatuto Regional dos Açores” beliscou os poderes da Presidência da República, aí e nesse caso, tomou uma posição de força e “comprou” mesmo uma “guerra” com o Governo.
Por isso, e por este modo de proceder a que nos habituou, é que eu duvido muito que a referida “notícia” tenha alguma credibilidade.
Mas já agora aproveito para pedir a V. Exa. que nos poupe à leitura de uma qualquer nota que decida enviar à Assembleia da República, tal como fez quando da “Lei do Aborto”, pois essas notas não são mais do que um lavar de mãos, uma atitude do tipo: “Eu não concordo, mas assino”.
Tenho eu alguma coisa contra os homossexuais poderem viver juntos e até terem direitos reconhecidos por lei civil dessa mesma união?
Não, não tenho nada contra, pois essa é uma opção de cada um, que eu não julgo, nem tenho de julgar, embora vá contra a Doutrina e a Fé que eu professo na minha vida.
Posso afirmar essa Fé e essa Doutrina, testemunhando-a e tentando cumpri-la, mas não posso, não devo, nem quero impô-la a ninguém que a não queira aceitar e seguir.
Outra coisa bem diferente é aceitar que a instituição do Casamento, que desde sempre se entendeu como a união entre um homem e uma mulher, (escuso-me de pensamentos exaustivos sobre o assunto que já são do conhecimento de todos), para em circunstâncias normais constituírem uma família, seja posta em causa, apenas para tornar normal aquilo que o não é.
E o problema maior é que com estas leis que V. Exa. vai aprovando, (embora afirmando que o faz a contragosto), a sociedade portuguesa se vai desagregando e dando sinais de uma degradação progressiva.
Neste momento e julgo que nestes últimos dois anos, já morrem em Portugal mais Portugueses do que aqueles que nascem.
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O aborto que seria para as excepções, (se é que há excepções quando se trata de defender a vida humana?), tornou-se prática comum, de tal modo que constitui já, no fundo, um método anticoncepcional com a ironia, (se é que assim se lhe pode chamar), de o ser já depois da concepção.
Os compromissos assumidos num casamento, são menos importantes e defendidos em lei do que um vulgar contrato de trabalho, o que leva cada vez mais à desresponsabilização das pessoas, à destruição fácil das famílias, e ao cada vez mais periclitante desenvolvimento harmonioso das crianças e dos jovens, com as consequências que estão à vista na nossa sociedade.
Afirma-se em defesa da aprovação destas leis que as mesmas faziam parte dos programas dos partidos sufragados em eleições, como se algum Português que queira ser verdadeiro acredite que antes de votar, cada cidadão lê algum desses programas.
Mas a ser assim, e se essa fosse uma razão de peso para a aprovação dessas leis, também V. Exa. se poderá socorrer da sua condição de cristão e católico, pois que os Portugueses que em si votaram sabiam dessa sua “condição”, que V. Exa. não fez segredo nenhum em mostrar.
É que não se é cristão e católico para umas coisas e outras não!
Um cristão e católico deve pautar a sua vida pela Fé e pela Doutrina que afirma professar e tanto uma como a outra estão acima dos seus próprios interesses, ou mesmo os dos outros, quando os mesmos ferem e cortam a sua relação com Deus.
Foi por isso, por exemplo, que Pedro e João depois de proibidos pelo Sinédrio de falar ou ensinar em nome de Jesus Cristo, responderam:
«Julgai vós mesmos se é justo, diante de Deus, obedecer a vós primeiro do que a Deus. Quanto a nós, não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos.» Act 4, 19-20
Senhor Presidente da República
Este Governo e as leis que fez aprovar na Assembleia da República, verdadeiros atentados à vida, aos valores, à sociedade, irá ficar na história de Portugal como um dos períodos mais negros da sua existência.
As notas que V. Exa. enviou e enviar à Assembleia da República, invocando o seu tímido desacordo não passam disso mesmo: notas, que não ficarão para a posteridade!
Como tal, o que ficará na história será o facto de V. Exa. ter aprovado também essas leis iníquas, o que o torna conivente com a degradação da sociedade Portuguesa.
V. Exa. sabe bem que o referendo pedido por tantos Portugueses para esta lei nunca foi admitido, porque havia a certeza, pela parte dos fautores da lei, que o mesmo lhes seria adverso, pois basta ver e ler as sondagens que foram feitas sobre o assunto.
V. Exa. não tem que concordar com o Governo e as forças políticas que pouco a pouco vão destruindo a nossa sociedade, até porque uma maioria na Assembleia, não significa forçosamente uma maioria no País.
E depois, mesmo que houvesse uma maioria, a verdade é que há maiorias que se enganam.
Senhor Presidente da República, V. Exa. poderá ficar na história de Portugal de dois modos.
Ou como aquele que ratificou leis que destruíram a nossa sociedade, ou como aquele que teve a coragem de se lhes opor por um bem maior, sendo coerente com os seus princípios e com os valores da Nação Portuguesa.
Do primeiro modo, rapidamente será esquecido, do segundo será lembrado para sempre.
É certo que o veto poderá não impedir que a lei seja mais tarde novamente aprovada pela Assembleia da República e assim, (julgo eu), ter V. Exa. a “obrigação” de a ratificar.
Mas perante esse facto tem V. Exa. a oportunidade de demonstrar que a coerência de vida assente na Fé e Doutrina que afirma professar, fala mais alto que uma qualquer função pública, (por mais importante que ela seja), e então recusar-se novamente a ratificar a referida “lei”.
E se para tal, for preciso renunciar às suas funções como Presidente da República, faça-o, porque ganha o País ao passar-lhe V. Exa. uma tal imagem de coragem e coerência, ganhamos todos nós ao percebermos que afinal ainda há cristãos e católicos que não desistem de colocar «Deus acima de todas as coisas», e ganha com certeza o Aníbal Cavaco Silva a quem Deus abençoará na sua decisão e dando-lhe, em todos nós que acreditamos, o respeito e a admiração devidas por tal atitude.
Dará também aos Portugueses, que tanto andam deprimidos e desinteressados da vida Portuguesa, um novo alento, pois perceberão que ainda vale a pena lutar por uma sociedade mais justa, mas sem fazer concessões àqueles que no fundo a querem destruir, pensando apenas nos seus próprios interesses.
Muitos dirão que sou um sonhador!
Sê-lo-ei, sem dúvida, mas prefiro acreditar que ainda é possível testemunhar a coerência de tudo em que dizemos acreditar.
Se em algum momento desta carta, ofendo V. Exa. peço que me perdoe, pois não é nem foi esse o meu intuito.
Com os meus respeitosos cumprimentos.
Joaquim Mexia Alves
http://queeaverdade.blogspot.com/2010/04/carta-aberta-ao-senhor-presidente-da.html
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