Há-de haver uns bons quarenta anos, viajava de Londres para Lisboa. A meu lado, no avião, sentava-se um conhecido negociante de tapetes e alcatifas com quem tinha excelentes relações.
Entabulámos conversa. Daí a tempo, o sujeito que ocupava o terceiro lugar da fila, meteu conversa, perguntando: “Do you speak English?”
Ao saber que sim, falávamos inglês, perguntou se éramos portugueses. Obtendo a confirmação aventou que, talvez o pudéssemos ajudar. Era americano e viajava para Portugal em negócios por conta de uma grande cadeia de supermercados. Explicou que na cidade onde trabalhava vivia um grande número de portugueses, clientela importante que desejavam cativar e que, por causa disso, os seus superiores o encarregaram desta viagem. Em breves palavras contou que alguém do topo da hierarquia tinha relações de amizade com uma família portuguesa e ficara encantado com um candeeiro a petróleo, daqueles antigos, todos em vidro incluindo, claro, a chaminé que abrigava a mecha acesa. Ocorreu-lhe então que seria um óptimo brinde para oferecer no Natal aos melhores clientes da tal cadeia de super lojas. Assim, a sua missão era descobrir em Portugal um fornecedor desses candeeiros!
Ficámos a olhar para o homem tentando perceber se falava a sério. Que sim, era verdade e a encomenda que pretendia colocar para ser satisfeita a tempo do Natal – evidentemente – era na ordem dos cinquenta mil candeeiros!
Para meu completo espanto, o meu amigo – negociante de alcatifas e tapetes, sublinho – informou com convicção: “Você está com uma sorte tremenda porque, eu, estou nessa área de negócio.”
Seguiu-se troca de cartões, números de telefone etc. e combinando encontro para daí a dias num hotel de Lisboa.
Eu não disse palavra, pois que havia eu de dizer? Quando recolhíamos as malas perguntei ao meu amigo: “Mas então você percebe alguma coisa de candeeiros de petróleo?”
“Absolutamente nada”, respondeu-me.
Surpreendi-me ainda mais: “Mas… você afirmou ao americano que lhe ia resolver o problema e, ainda por cima, cinquenta mil candeeiros!”
“Pois claro, se fossem cem ou duzentos nem sequer pensava no assunto, agora, por cinquenta mil… meu caro amigo, disse-me com um sorriso largo na cara simpática, hei-de descobrir uma fábrica, ou fábricas que os façam e, pode crer, vou ganhar um bom dinheiro com a comissão.”
Soube depois que assim fora, conseguira o que queria, e o americano fechou o negócio com duas ou três fábricas da Marinha Grande.
(AMA, 2003)
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