O vaticanista Sandro Magister afirmou num recente artigo que o termo "Igreja pecadora" nunca foi considerado correcto pelo Papa Bento XVI, pois embora esta fórmula esteja na moda, é alheia à tradição cristã.
Magister referiu-se ao artigo do L'Osservatore Romano sobre o encontro entre o Papa e os cardeais por ocasião do seu quinto aniversário de eleição pontifícia, e no qual o jornal escreveu que "o Pontífice tem feito referência aos pecados da Igreja, recordando que ela, ferida e pecadora, experimenta mais o consolo de Deus".
Entretanto, adverte Magister, "é duvidoso que Bento XVI tenha se expressado dessa maneira. A fórmula ‘Igreja pecadora’ nunca foi dele tendo-a sempre a considerado equivocada".
Como exemplo, citou a homilia da Epifania de 2008, onde "definiu a Igreja de um modo totalmente distinto: ‘Santa e composta por pecadores’".
"E se examinarmos bem encontraremos que ele sempre a definiu desse modo. No final dos exercícios de Quaresma de 2007, Bento XVI agradeceu ao pregador – que esse ano havia sido o Cardeal Giacomo Biffi – ‘por haver-nos ajudado a amar mais a Igreja, a 'immaculata ex-maculatis', como nos ensinaste com (citando) Santo Ambrósio’".
A expressão "immaculata ex-maculatis", explica o vaticanista, "está numa passagem do comentário de Santo Ambrósio ao Evangelho do Lucas" e significa "que a Igreja é Santa e sem mancha, mesmo quando acolhe nela homens manchados de pecado".
Magister explicou que o Cardeal Biffi publicou em 1996 um ensaio dedicado a este tema e que continha no título "uma expressão mais ousada ainda, aplicada à Igreja: ‘Casta meretrix’, meretriz casta"; fórmula usada pelo "catolicismo progressista" para dizer "que a Igreja é Santa ‘mas também pecadora’ e deve sempre pedir perdão pelos ‘próprios’ pecados"; e que Hans Küng afirma que foi usada "frequentemente desde a época patrística".
"Frequentemente? Pelo que sabemos, em todas as obras dos Padres, a fórmula só aparece uma vez: no comentário de Santo Ambrósio ao Evangelho do Lucas. Nenhum outro Padre latino ou grego jamais a usou, nem antes nem depois", esclareceu Magister.
O vaticanista acrescentou que Santo Ambrósio aplicou este termo em relação à simbologia de Raabe, a prostituta de Jericó que "hospedou e salvou em sua própria casa a uns israelitas fugitivos"; e que já antes deste Padre da Igreja, tinha sido vista como "protótipo" da Igreja. "A fórmula ‘fora da Igreja não existe salvação’, nasceu precisamente do símbolo da casa salvadora de Raabe", explicou Magister.
O Cardeal Biffi, indicou Magister, explicou que a expressão casta meretrix, "longe de aludir a algo pecaminoso e reprovável, quer indicar (…) a santidade da Igreja. Santidade que consiste tanto na adesão sem hesitações e sem incoerências a Cristo seu esposo ('casta') como na vontade da Igreja de alcançar a todos para levar a todos à salvação ('meretrix')".
O vaticanista sublinhou que o facto de que "aos olhos do mundo a Igreja possa aparecer ela mesma manchada de pecados e golpeada pelo desprezo público, é algo que remete à de seu fundador Jesus, que também foi considerado um pecador pelas potências terrenas de seu tempo".
Entretanto, recordou que a Igreja é Santa pelo seu fundador e por isso pode acolher "os pecadores e sofrer com eles pelos males que padecem e curá-los". "Em dias calamitosos como os actuais, cheios de acusações que querem invadir precisamente a santidade da Igreja, esta é uma verdade que não se deve esquecer", afirmou.
(Fonte: ‘ACI Digital’ com adaptação de JPR)
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