Santo Hilário (c. 315-367), Bispo de Poitiers e Doutor da Igreja
Comentário ao Evangelho de Mateus, 14, 13-14 (a partir da trad. SC 258, p. 27)
«Foi ter com eles de madrugada»
«Jesus obrigou logo os seus discípulos a subirem para o barco e a irem à frente, para o outro lado, rumo a Betsaida, enquanto Ele próprio despedia a multidão. Depois de os ter despedido, foi orar para o monte. Era já noite, o barco estava no meio do mar e Ele sozinho em terra» (Mt 14, 22-23). Para dar a razão destes factos, é preciso fazer distinções de tempos. Se Ele está só à noite, isso mostra a Sua solidão na hora da Paixão, quando o pânico dispersou todos. Se ordena aos seus discípulos que entrem no barco e atravessem o mar, enquanto Ele próprio despede as multidões e, uma vez despedidas, sobe a um monte, é que lhes ordena que estejam na Igreja e naveguem no mar, quer dizer, neste mundo, até que, retornando no dia da Sua vinda gloriosa, Ele dê a salvação a todo o povo, que será o resto de Israel (cf. Rom 11, 5) [...], e que esse povo dê graças a Deus seu Pai e se estabeleça na Sua glória e na Sua majestade. [...]
«Na quarta vigília da noite, Jesus foi ter com eles». Na expressão «quarta vigília da noite» encontra-se o número correspondente às marcas da Sua solicitude. Com efeito, a primeira vigília foi a da Lei, a segunda a dos profetas, a terceira a da Sua vinda corporal, a quarta coloca-se no Seu regresso glorioso. Mas Ele encontrará a Igreja decadente e cercada pelo espírito do Anticristo e por todas as agitações deste mundo; virá num momento de extrema ansiedade e de tormentos. [...] Os discípulos estarão aterrorizados pela vinda do Senhor, temendo as imagens da realidade deformadas pelo Anticristo e pelas ficções que se insinuam no olhar. Mas o Senhor, que é bom, falar-lhes-á imediatamente, afastará o seu medo e lhes dirá: «Sou eu», dissipando, pela fé na Sua vinda, o temor do naufrágio ameaçador.
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
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