Comecei a minha carreira de jornalista no Diário de Notícias.
Tinham passado ainda poucos anos da breve passagem de Saramago pela direcção do Jornal. Não deixara saudades.
Ficou a imagem de perseguidor feroz dos adversários numa passagem tristemente marcada pelo saneamento político de dezenas de jornalistas.
Viviam-se tempos difíceis de enorme tensão política e luta ideológica. Mas, então como agora, houve quem soubesse escolher o respeito pela liberdade de expressão dos “inimigos” e os que não resistiram à tentação de tentar, por todos os meios, e em nome de novas verdades absolutas, prolongar os tempos da censura.
A defesa da liberdade de expressão e crítica aberta não foi então a marca de água do escritor.
Não serve o argumento para coarctar a sua. Tem Saramago direito a propagar o seu jacobinismo e dizer o que pensa. Até de declarar guerra a Deus e às religiões embora o respeito pela liberdade dos outros aconselhasse, aqui como em tudo, a dispensa do insulto fácil.
Os que acreditam em Deus esperam que as dúvidas de Saramago sobre a Sua existência se dissipem, um dia, num encontro a dois. Onde, para espanto do escritor, em vez do juiz cruel que a sua imaginação produziu e a razão rejeita se encontrará com O Pai infinitamente bom. Capaz de compreender toda a arrogância e perdoar o insulto.
Aos crentes, incapazes da mesma atitude, resta: não comprar.
Graça Franco
(Fonte: ‘Página 1’ grupo Renascença, edição de 21.10.2009)
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