Um contributo ético da Igreja á humanidade
Substancialmente è desde há pelo menos três meses que a imprensa internacional segue coo um interesse particular, muitas vezes com não poucas elucubrações mediáticas a aproximação do momento da publicação da terceira encíclica de Bento XVI Caritas in veritate. Agora que estamos na véspera da publicação vamos recordar aqui algumas das vezes que o próprio Papa a ela se referiu. A 29 de Junho passado, festa de São Pedro e São Paulo, depois da recitação do Angelus Bento XVI confiou este seu documento à oração dos fiéis definindo - o um ulterior contributo que a Igreja oferece à humanidade no seu empenho a favor de um progresso sustentado, no pleno respeito da dignidade humana e das exigências reais de todos.
Além disso o Papa explicando o conteúdo principal da sua encíclica observou que nela retoma as temáticas sociais contidas na Populorum progressio, escrita pelo Servo de Deus Paulo VI em 1967, e deseja aprofundar alguns aspectos do desenvolvimento integral na nossa época, á luz da caridade na verdade.
A ética não está fora da economia
A 17 de Março no encontro com os jornalistas no avião que o levava aos Camarões e mais tarde a Angola, á pergunta do colega dos Estados Unidos John Thavis, o Santo Padre precisava o seu pensamento sobre o documento que estava a elaborar.
“Todos sabemos que um elemento fundamental da crise é precisamente um deficit de ética nas estruturas económicas ; percebeu-se que a ética não é algo que está fora da economia, mas sim dentro, e que a economia não funciona se não traz em si o elemento ético.
Portanto, falando de Deus e falando dos grandes valores espirituais que constituem a vida cristã, procurarei dar um contributo próprio também para superar esta crise, para renovar o sistema económico a partir de dentro, onde s encontra o ponto da verdadeira crise.
Bento XVI na sua resposta recorda que a Igreja não tem para oferecer nem programas políticos nem económicos, coisas que estão fora da sua missão e nas quais não possui competências, mas sim um programa religioso, de fé, de moral, e salienta, “mas precisamente este é também um contributo essencial para o problema da crise económica que vivemos neste momento.
As crises oferecem pontos de reflexão
São reflexões e tomadas de posição suficientes para evitar qualquer óptica redutora ou desviante que possa levar a juízos insustentáveis, porque fora do objectivo e da natureza do documento pontifício. O Santo Padre, sempre na resposta ao jornalista americano quis ser ainda mais pontual e portanto acrescentou:” E naturalmente farei apelo à solidariedade internacional: a Igreja é católica, isto é universal, aberta a todas as culturas, a todos os continentes; está presente em todos os sistemas políticos e assim a solidariedade é um princípio interno, fundamental para o catolicismo.
Naturalmente desejaria dirigir um apelo antes de mais à solidariedade católica, estendendo-a também à solidariedade de todos aqueles que vêm a sua responsabilidade na sociedade humana de hoje. Obviamente falarei disto também na Encíclica: este è um dos motivos do seu atraso. Estávamos já quase para o publicar quando se desencadeou esta crise e retomámos o testo para responder mais adequadamente, no âmbito das nossas competências, no âmbito da Doutrina social da Igreja, mas com referencia aos elementos reais da crise actual. Assim espero que a Encíclica possa ser também um elemento, uma força para superar a difícil situação presente”.
A este ponto é claro o que devemos esperar desta terceira encíclica de Bento XVI: uma ampla e aprofundada reflexão do magistério pontifício em continuidade com os ensinamentos dos seus predecessores, inteiramente centrada no contributo que a Doutrina social da Igreja oferece á grande questão do desenvolvimento humano, integral e sustentável partindo do seu elemento inovador de muitas situações negativas que se vieram a criar com a deflagração de varias crises: financeira, climática, alimentar.
O Papel profético da Igreja è um dever
A 22 de Fevereiro passado, durante o terceiro encontro com o clero de Roma, à pergunta do Padre Giampiero Ialongo que dizia ao Santo Padre: Deveríamos ter a coragem de denunciar um sistema económico e financeiro injusto nas suas raízes, o Papa respondeu “Agora esta questão que toca o nervo dos problemas do nosso tempo. Eu distinguiria entre dois níveis. O primeiro é o nível da macroeconomia, que depois de realiza e vai até ao último cidadão, o qual sente as consequências de uma construção errada. Naturalmente, denunciar isto é um dever da Igreja. Como sabeis, há muito tempo que preparamos uma Encíclica sobre estes pontos. E no longo caminho vejo como é difícil falar com competência, porque se não for enfrentada com competência uma determinada realidade económica não pode ser credível. E, por outro lado, é preciso falar também com uma grande consciência ética, digamos criada e despertada por uma consciência formada pelo Evangelho. Portanto é preciso denunciar estes erros fundamentais que agora são evidenciados pela queda dos grandes bancos americanos, os erros na base. No final, é a avareza humana como pecado ou, como diz a Carta aos Colossenses, avareza como idolatria. Devemos denunciar esta idolatria que vai contra o verdadeiro Deus e a falsificação da imagem de Deus com outro deus "dinheiro". Devemos fazê-lo com coragem mas também concretamente. Pois os grandes moralismos não ajudam se não forem substanciados com conhecimentos da realidade, que ajudam também a compreender o que se pode fazer concretamente para mudar pouco a pouco a situação. E, naturalmente, para o poder fazer são necessários o conhecimento desta verdade e a boa vontade de todos.
Para além das denuncias é necessário mostrar os caminhos de saída
Depois Bento XVI acrescentou na sua resposta: “
Por isso é necessária, diria, a denúncia razoável e raciocinada dos erros, não com grandes moralismos, mas com razões concretas que se tornem compreensíveis no mundo da economia de hoje. A denúncia disto é importante, é um mandato para a Igreja desde sempre. Sabemos que na nova situação que se veio a criar com o mundo industrial, a doutrina social da Igreja, começando por Leão XIII, procura fazer estas denúncias e não as denúncias, que não são suficientes mas também mostrar os caminhos difíceis nos quais, passo a passo, se exige o consentimento da razão e da vontade, juntamente com a correcção da minha consciência, à vontade de renunciar num certo sentido a mim mesmo para poder colaborar no que é a verdadeira finalidade da vida humana, da humanidade.
Sem homens justos não existe nem justiça nem estruturas justas
Sobre o segundo nível do problema o Papa explica:
O outro é o sermos realistas. E ver que estas grandes finalidades da macrociência não se realizam na microciência a macroeconomia na microeconómica sem a conversão dos corações. Se não existem os justos, também não existe a justiça. Devemos aceitar isto. Portanto a educação para a justiça é uma finalidade prioritária, poderíamos dizer que é a prioridade. Porque São Paulo diz que a justificação é o efeito da obra de Cristo, não é um conceito abstracto, relativo a pecados que hoje não nos interessam, mas refere-se precisamente à justiça integral. Só Deus no-la pode dar, mas no-la concede com a nossa cooperação a diversos níveis, a todos os níveis possíveis. Não se pode criar no mundo a justiça apenas com modelos económicos bons, que são necessários. A justiça só se realiza se existem os justos. E os justos não existem se não há o trabalho humilde, quotidiano, de converter os corações. E de criar justiça nos corações. Só assim se expande também a justiça correctiva. Por isso o trabalho do pároco é muito fundamental não só para a paróquia, mas para a humanidade. Porque se não houver justos, como disse, a justiça permanece abstracta. E as estruturas boas não se realizam se se opõe o egoísmo também de pessoas competentes.
(Fonte: site Radio Vaticana)
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