Morreu esta semana o compositor, músico, maestro José Calvário, figura que fica na história da música portuguesa. É responsável por algumas músicas que nos ficam, que invadem o imaginário colectivo, que nos fazem cantarolar em momentos distintos.
No funeral estavam quinze pessoas. Ninguém do Governo, da Cultural, da Câmara Municipal, da Sociedade Portuguesa de Autores. A sua morte teve destaque nas páginas interiores dos jornais e nos rodapés dos telejornais (e não de todos).
O maestro José Calvário é o autor da música que fez de senha ao 25 de Abril. Ainda se lembram?
Não temos um pingo de vergonha na cara. Se o José Calvário tivesse andado a pular na em programas de televisão com meninas que mostram as pernas; se tivesse aberto a sua casa à Caras, enfim, se tivesse feito alarido de quem era e o talento que tinha... Não o fez. Era um homem frontal, com poucos amigos, que a frontalidade não é coisa que se cultive.
Um amigo comum disse-me ontem: "Se o Zé teve 15 pessoas, tu vais ter 9". Seja.
Deve ser por estas e por outras que tenho uma enorme vontade de mandar tudo e todos à merda, com honrosas excepções, pessoas frontais e com talento que teimam em não se calar, em trabalhar, sem aparecer nas revistas a mostrar o corpinho.
O protagonismo só pela vaidade é triste e a hipocrisia ainda mais.
O talento do José Calvário mora nos discos. Procurem-nos. Façam qualquer coisa de jeito, individualmente, porque todos juntos, como país, somos apenas isto: um povo que não festeja, um povo que gosta apenas de maldizer.
Patrícia Reis
(Fonte: blogue de Patrícia Reis em http://vaocombate.blogs.sapo.pt/112701.html )
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