No regresso, quando voltei a atravessar aquele sufocante muro, latejavam na minha cabeça as palavras que Bento XVI tinha acabado de proferir, ao sair da Palestina
Foi a primeira vez que atravessei aquele monstro. Ergue-se feio e ameaçador sobre nós, tem nove metros de altura e está cuidadosamente vigiado por soldados fortemente armados. O muro que Israel construiu é uma afronta humana.
No dia em que o Papa foi a Belém, fomos submetidos a esta aberração: controles e mais controles.
Do lado de lá do muro, os palestinianos acolheram com gratidão palavras do Papa a favor de um Palestina soberana e livre e partilharam a sua angústia contra o muro dominador.Numa pausa da visita, numa das ruelas de Belém, dois vendedores meteram conversa, velhos amigos, ambos de idade avançada, sentados à porta da sua loja, um muçulmano e o outro cristão, contentes com as palavras do Papa, mas cépticos sobre o que o poderá mudar. “Eu sou de Jerusalém”, disse o muçulmano, “mas não posso lá voltar. Tenho a chave de minha casa e não me deixam lá ir”. E o velho cristão, ao seu lado, confidenciou: “Dantes, na Páscoa, íamos sempre a Jerusalém, mas agora não é possível. Tenho os meus documentos em ordem e não me deixam passar”.
Impressionou-me a falta de esperança destes homens. No regresso, quando voltei a atravessar aquele sufocante muro, latejavam na minha cabeça as palavras que Bento XVI tinha acabado de proferir, ao sair da Palestina. Ainda pior do que isto são os muros que construímos à volta do nosso coração.
Aura Miguel
(Fonte: site RR)
Sem comentários:
Enviar um comentário