De um acontecimento tão importante e tão rico de temas como a peregrinação do Papa na Terra Santa são obviamente possíveis muitas leituras. Inclusive as parciais, interessadas ou até deturpadas já feitas por muitos mass media, num contexto complicado e explosivo como o do Próximo e Médio Oriente, região que há muitos decénios está caracterizada por tensões, injustiças, violências e conflitos. Mas não se devem esquecer as chaves de leitura introduzidas por Bento XVI já durante o encontro com os jornalistas no avião, e várias vezes repetidas na Jordânia e em Israel.
Entre estas leituras do itinerário papal sobressai certamente a expressão usada pelo Pontífice que diante do Grão-Mufti de Jerusalém definiu a sua peregrinação "uma viagem de fé". Semelhante ao de miríades de fiéis dos três monoteísmos que de modos diversos se referem à figura de Abraão, realizado agora pelo Bispo de Roma em nome da Igreja católica. Para repetir mais uma vez que a unicidade de Deus está inseparavelmente relacionada com a unidade da família humana. E portanto que todos os homens e mulheres de boa vontade têm a responsabilidade de construir um mundo de justiça e de paz.
Esta finalidade religiosa tem portanto uma evidente dimensão política, porque inclui uma vontade de amizade para com todos, em particular para com o povo judaico e os fiéis muçulmanos. Mas sem esquecer que a Igreja é uma força espiritual e não um poder político, como disse claramente Bento XVI. E esta intenção religiosa exige ser compreendida como tal e respeitada. Também numa região onde as contradições são tantas, para retomar uma expressão pronunciada pelo guardião da Terra Santa que recebeu o Papa num lugar simples e denso de história sagrada como o Cenáculo. Por isso é preciso ir além das contradições e dos relativos mínimos episódios que contudo chamam muito a atenção dos meios de comunicação e se devem à vontade míope de diversas partes de obter da viagem papal efémeras vantagens políticas. Enquanto Bento XVI, em nome da Igreja católica, deseja contribuir para a compreensão, a amizade e definitivamente a paz, como repetiu diante dos representantes das organizações que em Jerusalém estão comprometidas no diálogo entre as religiões, diante dos chefes religiosos muçulmanos, no encontro com os rabinos ashkenazita e sefardita e dos seus fiéis.
Esta intenção do Papa foi clara sobretudo em dois momentos. Primeiro, na honra prestada, nas pegadas dos seus predecessores, às vítimas do Shoah no memorial de Yad Vashem, num silêncio que consagrou a recordação dos seis milhões de judeus homens, mulheres, crianças exterminados pelo ódio nazista. E depois na oração, tão semelhante à de tantos peregrinos, diante do Muro ocidental do Templo. Para que a visita do Bispo de Roma a Jerusalém, "cidade de paz", contribua para a paz na Terra Santa, no Médio Oriente, e em toda a família humana.
Giovanni Maria Vian
(Fonte: L'Osservatore Romano de 18 de Maio de 2009 edição portuguesa)
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