Excertos entrevista a Paulo Rangel por Ana Sá Lopes, Publicado em 19 de Maio de 2009
O católico progressista fã de heavy-metal é a revelação da campanha para as europeias. Mandaram-no comer papa Maisena: adorou. Acha que a fúria repentina dos adversários em tratá-lo como um benjamim lhe vai dar sorte. Paulo Rangel recebe o i no seu gabinete de líder parlamentar do PSD onde não aqueceu o lugar. Entrou no PSD em 2005, esteve próximo do CDS, mas não se lembra se chegou a ser militante. Começámos na hard european politics mas acabámos na moral católica. Para Paulo Rangel, a igreja tem de mudar o discurso sobre a ordenação das mulheres, o casamento dos padres, os homossexuais, os anticoncepcionais e o divórcio.
(…)
Quem é o Paulo Rangel fora da instituição? Por exemplo, que anda a ler? Algum romance?
O que andei a ler até agora, por estranho que pareça, são biografias de São Paulo, porque era o ano paulino, e porque eu me chamo Paulo. Não ando a ler nenhum romance.
É um católico mesmo praticante? Vai à missa?
Sim, mas sou um progressista, não me revejo na moral de costumes da Igreja Católica, na não ordenação das mulheres, no não casamento dos padres.
Defende o casamento dos padres?
Em primeiro lugar defendo a ordenação das mulheres. Não compreendo que hoje, 2009, a Igreja tenha esta restrição. Olhe, o São Paulo, que tem aura de ser um autor sexista, em grande parte das igrejas que fundou as chefes eram mulheres. O que revela bem que o estatuto da mulher não era assim tão subalterno quanto pode parecer da leitura de alguns textos.
Na Igreja é.
Na igreja institucional, sim. Mas com Jesus Cristo não. Tudo o que se conhece até aponta para um certo escândalo por ele ter mulheres apóstolas. E São Paulo também, curiosamente.
Concordou com a despenalização do aborto?
Eu estou de acordo com a posição da Igreja quanto ao aborto e à eutanásia. No resto não. Nos anticonceptivos sou um radical activista contra as posições da Igreja. Na moral sexual em geral sou contra: casamento, divórcio, a questão dos homossexuais.
Defende o casamento gay?
Não é uma coisa que eu defenda hoje. Defendo uma instituição à parte.
A solução inglesa?
Um instituto análogo ao casamento. Para a sociedade portuguesa seria a melhor solução agora. Não porque eu não reconheça o direito? Eu percebo muito bem as reivindicações dos activistas e das activistas dos movimentos gay, mas acho que sociologicamente também temos que respeitar as convicções da maioria da população portuguesa, que é muito conservadora nesta matéria. Temos de encontrar um equilíbrio. A terceira via é um bom equilíbrio. Aliás, nas associações activistas há uma certa contradição. Elas dizem: agora falamos em casamento e mais tarde na adopção, é preciso um primeiro passo. Mas eu acho que é preciso um primeiro passo antes do casamento. Se aceitássemos a teoria gradualista, criavam-se -se menos fracturas.
Primeiro a união civil, depois o casamento, a seguir a adopção? Também defende a adopção?
É uma questão muito problemática.
Mas um homossexual é menos bom pai que...
Não, não é menos. Não é menos. Não é menos.
Então?
Mas eu percebo que há aqui questões sociológicas, de respeito pelas convicções dominantes na sociedade. E também têm de ser tidas em conta, não há aqui só direitos de uns. Prefiro uma engenharia social gradual. Mas acho que é aqui, na relação com os homossexuais, que a Igreja deveria abrir mais. Em toda a moral sexual é preciso uma grande renovação na Igreja. E há coisas que não compreendo de maneira nenhuma: a ordenação das mulheres, o casamento dos padres, a questão dos anticonceptivos, não percebo como é que se consegue continuar com este discurso.
(Fonte: “i” online em http://www.ionline.pt/conteudo/4944-a-igreja-deveria-abrir-mais-na-questao-homossexual )
Nota: pena é que as leituras de São Paulo que diz andar a fazer não o tenham iluminado e pelo contrário faça uma leitura enviesada das Epístolas, não deve ter chegada a ler 1 Cor, 1-16 ou 1 Tim 5, 17-25
(JPR)
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