Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

quinta-feira, 18 de junho de 2020

«se matas alguém, é como se tivesses morto todas as pessoas; se salvas uma vida é como se tivesses salvo todas»

Myhanh Best, mulher de Rick, cumprimentada pelo pároco, no funeral do marido.
Duas raparigas de origem africana, estudantes do secundário, viajavam num metro de superfície em Portland (Oregon, Estados Unidos da América). Um fortalhaças de 35 anos começa a insultá-las com grande violência, por serem negras e uma delas usar um lenço muçulmano. Ricky Best, empregado da Câmara, de 53 anos, pai de 4 crianças, avança para defender as raparigas e dois outros passageiros seguem-no: Namkai-Meche, de 23 anos, que terminara o curso de Economia há poucos meses, e Micah Fletcher, de 21 anos, ainda estudante da Universidade. Graças a esta intervenção, as raparigas conseguiram escapar.

Então, o fortalhaças vira-se contra os três homens. Esfaqueia Best matando-o ali mesmo, a seguir degola Meche, que ficou em estado crítico e morreu no hospital, finalmente rasga o pescoço de Fletcher de uma ponta à outra, antes de abandonar o local. Dos três, só Fletcher sobreviveu. Era hora de ponta e o eléctrico estava apinhado. Passado o susto, alguns passageiros preveniram a polícia, a maioria dos passageiros simplesmente fugiu.

Como é natural, toda a cidade se interessou por conhecer alguma coisa dos três homens que se interpuseram para defender as raparigas.

Rick John Best, pai de 4 filhos, morto para defender
duas alunas do secundário.
Os colegas de trabalho de Rick Best contaram pequenas histórias. Era sempre o primeiro a ajudar os outros, falava muito da mulher e dos filhos, cheio de ternura e orgulho. Alguns Veteranos do exército descreveram-no como um herói durante os 23 anos da sua comissão no Afeganistão e no Iraque, exemplo de alguém que trabalhava generosamente para defender a vida de outros. Na paróquia, o pároco e o bispo da diocese explicaram o sentido profundo pelo qual Rick dava a vida diariamente. O pároco lembrou uma frase de Jesus, «não há maior amor do que dar a própria vida pelos amigos». É verdade que Rick não conhecia as raparigas que procurou salvar, mas, como dizia Erik Best (19 anos, filho de Rick), «fixo os olhos do meu pai e vejo o amor de Deus patente. Ele queria bem a todos». A própria família de Rick era bastante universal. Chamou-me a atenção que, na Missa do funeral, levavam todos lenços brancos na cabeça, símbolo de amor na tradição vietnamita, porque Myhanh, mulher de Rick, é do Vietname.

O Arcebispo de Portland partilhou nessa Missa uma experiência pessoal: «Deus tira sempre bem das tragédias humanas mais horríveis. O heroísmo de Rick já começou a dar fruto, unindo os cristãos e os muçulmanos numa frente comum contra o ódio e a violência». De facto, os muçulmanos sentiram a força poderosíssima de um abraço, ao preço de sangue, que os fez sentirem-se estimados por toda a cidade.

Musse Olol, Presidente do Conselho Somali do Oregon declarou: «a maioria dos imãs com quem falei quer saber quem eram estes bons samaritanos, estes heróis. A história é acerca deles, não do terrorista, nem sequer das raparigas, que estavam casualmente no sítio errado, à hora errada». Um deles lembrou o Corão: «se matas alguém, é como se tivesses morto todas as pessoas; se salvas uma vida é como se tivesses salvo todas».

Harris Zafar, chefe da comunidade muçulmana de Portland, ensinou a sua comunidade a aprender lições práticas da generosidade de Rick e a tratá-lo como um santo intercessor. «Quem me dera agradecer-lhe face a face por ele ser o pai que eu tento ser, a pessoa humana que me esforço por ser. Peço que ele me ajude em casa, com os meus filhos». E declarou, com humor: «O meu pai estava enganado: existem realmente super-heróis».

A população, agradecendo a Asha Deliverance (à esquerda) a
generosidade demonstrada pelo seu filho, Namkai-Meche,
morto para defender duas alunas do secundário.
A mãe de Namkai-Meche, o jovem economista que morreu, uma empresária de nome Asha Deliverance, mulher cheia de iniciativa, habituada a mandar, pôs toda a multidão a rezar, na vigília ao ar livre que se organizou no dia seguinte em Portland.

Fletcher, o mais novo e o único que sobreviveu, teve nestes dias bastantes oportunidades de demonstrar os seus dotes de oratória. Tinha recebido um prémio literário por uma poesia acerca do respeito pelos muçulmanos, que agora é lida pela cidade com um sentido redobrado. À televisão, declarou que «a comunidade muçulmana, especialmente em Portland, tem de compreender que muitos de nós não vamos ficar parados e deixar que alguém – daqui ou de fora – vos assuste fazendo-vos pensar que não podem fazer parte desta cidade, desta comunidade ou deste país». Insistiu em que «não sou um herói, sou só um miúdo de Portland» e que as principais vítimas foram Best, Meche e as duas raparigas. Dyjuana Hudson, mãe de uma delas, Destinee Mangum (16 anos) discorda amigavelmente: «Fletcher foi um dos anjos que salvou a vida da minha filha».

Lembrei-me do pesadelo de Portland por coincidir no tempo com uma proposta da Ordem dos Psicólogos Portugueses acerca do comportamento homossexual. Segundo o projecto, é preciso recusar ajuda às pessoas que querem ultrapassar esta tendência, é preciso proibir os psicólogos discordantes e é preciso obrigar os católicos a reconhecer que a sua religião os enche de preconceitos, quer como profissionais dispostos a ajudar, quer como pacientes que não estão satisfeitos com a sua tendência.

Esperemos que a proposta seja retirada e não faça vítimas mas, em Portland como em todo o mundo, há situações em que algum de nós pode ter de decidir se defende os mais fracos contra quem tem poder. A maioria dos passageiros do metro ligeiro de Portland fugiu e não lhes aconteceu nada.

José Maria C.S. André
18-VI-2017
Spe Deus

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