Pelo contrário, sempre a louvou e a praticou com constância e amor. Ficou célebre, num consistório de cardeais que se efectuou nos princípios da década de noventa, a sua atitude de filho de Maria, que gostava de agradar e falar com a sua Mãe. O Santo Padre estava presente em quase todas as sessões, a que, obviamente, presidia. Numa delas, depois de várias horas de comunicações e intervenções dos ilustres purpurados, João Paulo II, discretamente, pegou no seu terço e começou a passar as contas...
Há gente que considera o terço uma sensaboria, uma maneira primária de rezar, enfim, uma sistemática repetição das mesmas coisas, que dificilmente tem sentido. Conta-se, a este respeito, que um bispo americano, que orientava um jovem rapaz de boa formação e prática católica, assistiu ao começo do namoro deste seu amigo com uma moça de outra confissão cristã diferente, como tantas que existem nesse país. A pouco e pouco, a amizade entre os três foi-se sedimentando.
Um dia, na ausência do rapaz, a rapariga disse de modo delicado ao prelado: “Tenho muita dificuldade em entender como rezam os católicos. Por exemplo, o terço. Repetem Ave-marias sobre Ave-marias. Estarão com atenção? É isso rezar?... Há-de convir que, pelo menos, é uma prática maçadora e aborrecida...”
A conversa ficou-se por aí. Encontrando-se os dois nas mesmas circunstâncias algum tempo depois, o bispo perguntou-lhe: “Já viste hoje o teu namorado?” “Estive com ele só um bocadinho, da parte da manhã...”. “E de que é que falaram?” “Muito simples: como não tínhamos mais tempo, ele disse-me que gostava muito de mim...”. “E tu gostaste?” “Claro, respondeu a rapariga, é o que ele me diz sempre quando não há tempo para mais...” “E tu gostas disso?” “Com certeza. É o meu namorado...” “É curioso. A mim isso parece-me algo assim como o terço. Repete-se sempre a mesma coisa...” E acrescentou, olhando-a com um sorriso: “Hás-de convir que, pelo menos, é uma prática maçadora e aborrecida...”
Claro que não achava maçadora e aborrecida a forma como o namorado a tratava, quando tinham pouco tempo para se verem. Esta observação serviu-lhe para compreender que o terço não é um mero papaguear de fórmulas e cultivar a distracção. Se se reza com amor, vai directo ao Coração de Maria, que está cheio de misericórdia e poder de intercessão. Foi o princípio da sua conversão ao catolicismo.
E deve ser uma oração esforçada e bem rezada. Lembremos a censura maternal da Senhora de Fátima aos três pastorinhos, que rezavam o terço sintético apenas dizendo, em cada mistério, “Ave-Maria” dez vezes, enunciavam o “Glória” e, por fim o “Pai-nosso”, para se livrarem dessa obrigação que os pais lhes recomendavam, e terem assim mais tempo para brincar. Maria “ralhou-lhes”, como Mãe, e, a partir daquele momento, passaram a rezar as contas como devia ser, isto é, dizendo as orações completas que ele comporta.
Mês de Outubro, Mês do Rosário. A nossa Mãe espera a prenda diária do nosso terço bem rezado. E se não nos for possível alguma vez completar esta oração, que tenhamos com ela algum pormenor de amor: um pequeno sacrifício, um mistério do terço, uma Ave-Maria muito compenetrada. E porque não? Rezarmos, nas nossas casas, em família, o terço ou qualquer outra oração que reúna todos os membros à volta da Virgem do Rosário.
(Pe. Rui Rosas da Silva – seleção do título da responsabilidade do blogue)
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