Há uma imagem pungente que está a correr mundo. O rosto de Deligiorgis é a de todo um povo grego.
A fotografia mostra num só rosto todos os gregos e a ajuda que prestaram aos desesperados migrantes que deram à costa. E foram tratados como seres humanos, categoria que parece terem deixado de ter.
É uma imagem que representa duas coisas: desespero e valor. O desespero daqueles que se fazem ao mar e se amotinam num barco para deixar a morte para trás e tentar chegar à outra margem, que seria um futuro risonho e com menos dificuldades - e com a tão sonhada “liberdade”, pela qual havia pago 10 mil dólares.
E há o valor dos homens que os recebem nas suas praias do Sul da Europa e correm para os salvar de uma tragédia que parece certa.
Foi o que aconteceu a semana passada na Ilha de Rhodes. O sargento Antonis Deligiorgis não hesitou em segurar Wegasi Nebiat, de 24 anos, que tinha deixado a Eritreia, mas o seu barco tinha ficado curto e a meio do trajecto.
Theodora, a mulher de Deligiorgis, diz que tinham chegado ao porto para beber um café quando a tragédia deu à costa.
Deligiorgis trouxe 20 dos 93 migrantes para a costa, sozinho. “De início tinha os sapatos calçados, mas depois tirei-os”, disse ao telefone ao "Observer”. “A água estava cheia de óleo do barco [que se tinha desmantelado] e as rochas são muito afiadas. Cortei-me bastante na mão e num pé, mas só conseguia pensar em salvar aquelas pobres pessoas”.
Sobre Wegasi Nebiat, e a foto que está a correr o mundo, quando a colocou nos seus ombros, Deligiorgis contou que ao princípio teve problemas em levantá-la. “Mas depois, instintivamente, pu-la nos meus ombros”.
Deligiorgis não quer saber de heroísmo. Fez o que tinha a fazer como “humano e como homem”. Mas quando se lembra do momento que tirou Nebiat da água, admite algo que ficará para sempre com ele: “Nunca esquecerei a cara dela. Nunca”.
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