A 15 de setembro (…) vamos comemorar a presença da Virgem Maria ao pé da Cruz, sofrendo com Jesus e colaborando com Ele na obra da Redenção. Ali se manifestou a sua nova maternidade, quando ouviu do Senhor aquelas palavras: Mulher, eis o teu filho [2]. Acolheu-nos então com radicalidade e ternura, como seus verdadeiros filhos. Estas duas festas são para o cristão um poderoso estímulo, um imperioso chamamento a abraçar com amor as pequenas e grandes cruzes que se apresentarem nas nossas vidas, sem queixas nem lamentações, pois todas nos atam a Jesus Cristo e constituem uma bênção muito especial de Deus. Não esqueçamos aquele comentário de S. Josemaria a propósito de que muitos chamam cruz ao que os contraria, e acabam por retirar das casas, e sobretudo do seu comportamento, a sua representação. Não entendem que a Santa Cruz, com todas as suas manifestações, dá liberdade e forças para combater nas batalhas da nova evangelização, começando pela conversão pessoal de cada um.
O Santo Padre (N. Spe Deus: Bento XVI) falava, há uns anos atrás, numa homilia, de que não há amor sem sofrimento, sem o sofrimento da renúncia a si mesmo, da transformação e purificação do eu pela verdadeira liberdade. Onde não existe nada pelo qual vale a pena sofrer, até a própria vida perde valor. A Eucaristia, o centro do nosso ser cristãos, fundamenta-se no sacrifício de Jesus por nós, nasceu no sofrimento do amor, que na Cruz alcançou o seu cume. Nós vivemos deste amor que se entrega. Este amor infunde-nos a coragem e a força para sofrer com Cristo e por Ele, neste mundo, sabendo que precisamente assim a nossa vida se torna grande, madura e verdadeira [3].
Ajudemos todas as pessoas que encontrarmos, ou com quem convivemos, a considerar o valor do sofrimento enfrentado assim, com paz e também com alegria. O nosso Fundador salientava-o, a certa altura, perguntando-se dolorosamente: Quem vai hoje ao encontro da Santa Cruz? Poucos. Bem vedes qual é a reação do mundo perante a Cruz, mesmo de tantos que se chamam católicos, para quem a Cruz é escândalo ou tolice, como S. Paulo escreveu: iudaeis quidem scándalum, géntibus autem stultítiam (1 Cor 1, 23). Senhor! Passados séculos, esta situação anormal persiste, também entre as pessoas que dizem que Te amam e que Te seguem [4]. De facto, observamos neste nosso mundo, o que o Apóstolo escrevia aos Coríntios: Enquanto os judeus pedem sinais e os gregos andam em busca da sabedoria, nós pregamos um Messias crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios. Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder e sabedoria de Deus [5].
[2]. Jo 19, 26.
[3]. Bento XVI, Homilia na inauguração do ano de S. Paulo, 28-VI-2008.
[4]. S. Josemaria, Notas de uma meditação, 3-V-1964.
[5]. 1 Cor 1, 22-24.
(D. Javier Echevarría, Prelado do Opus Dei na carta de mês de setembro de 2012)
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