Obrigado, Perdão Ajuda-me

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As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Joaquim esteve nove anos sem comungar. Mas "Deus vai muito além disso"

Durante nove anos, Joaquim Mexia Alves esteve impedido de comungar na missa. Contudo, essa experiência não o deixou amargo, muito pelo contrário.

O primeiro casamento foi pela Igreja, apesar de nenhum dos noivos ser praticante. “Sendo as famílias cristãs, católicas, há sempre uma tradição, um peso, e o casamento foi católico, como se diz, porque tinha de ser”, explica Joaquim Mexia Alves, de 65 anos e residente em Monte Real, no concelho de Leiria.

Dez anos mais tarde esse casamento chegou ao fim. A Igreja continuava a ser uma instituição que apenas pertencia às memórias da juventude, mas tudo mudou já depois de conhecer aquela que viria a ser a sua segunda mulher.

“Foi ao conhecê-la e ao desenvolver conversas com ela que começou a procura de Deus outra vez, até porque tinha vivido uma vida completamente desregrada desde o momento em que me separei, até conhecer a minha mulher actual. Esta procura de Deus que se dá depois de conhecer a minha segunda mulher tem também o sentido de perceber que alguma coisa estava mal na minha vida, que ia acabar mal de certeza”, conta.

Juntamente com Catarina verificou-se uma aproximação à Igreja ao ponto de a fé se tornar central nas suas vidas. “Íamos à missa mas não nos confessávamos nem comungávamos, porque tínhamos a noção que não estávamos numa situação regular”, explica Joaquim.

O casal tornava-se, assim, mais um exemplo dos muitos cuja situação vai ser analisada durante o sínodo para a família, que começa em Roma no domingo. Desde então, Joaquim e Catarina dedicam-se a acompanhar e aconselhar outros casais cujas situações canónicas são irregulares.

Um longo processo de nulidade
“Havia razões para pedir a nulidade do primeiro casamento”, diz, sem entrar em detalhes, mas o processo foi invulgarmente longo: durou cerca de nove anos até surgir uma sentença que confirmava, de facto, a inexistência sacramental do primeiro matrimónio.

O custo foi grande: “É doloroso porque no processo no tribunal eclesiástico de nulidade as partes, como eu, têm um encontro com a realidade – porque se não tiverem é escusado. Temos de ser verdadeiros e a verdade às vezes magoa.”

Foram tempos difíceis, sobretudo ao nível da relação com a ex-mulher, que recusou colaborar com o processo: “Foi uma das razões porque se atrasou. Não quis colaborar. Eu respeito profundamente a decisão dela. Aliás, ela tinha razão para estar magoada, por isso compreendo perfeitamente que não o tenha feito”.

Em causa está também, considera Joaquim, uma confusão sobre o que significa a nulidade: “Um homem e uma mulher que se unem unem-se. Se querem ou não fazer aquilo que a Igreja diz é uma coisa diferente. Não significa que o casamento não tenha existido, que não tenha tido consentimento, que não tenha tido um objectivo, que até nem fosse naquela altura pensado para a vida toda. Quem não conhece verdadeiramente todos os meandros da doutrina da Igreja, pode de alguma maneira ter esta sensação, ‘afinal não casei nada’, como se fosse desprezo, que não é.”

A história de Joaquim termina com um final feliz. Casado com Catarina pela Igreja já é livre de comungar sacramentalmente. Mas a história teve um longo intermédio de quase uma década em que essa vivência era mais complexa: “Tínhamos vontade de fazer tudo como nós achávamos que seria a vontade de Deus, de fazer o que a Igreja nos diz, e portanto colocava-se-nos o problema de não nos aproximarmos da confissão e da comunhão. Era algo que nos doía, mas optámos por aceitar e viver dessa maneira, desde o início.”

Nunca lhes faltou o apoio da comunidade e de sacerdotes que lhes davam assistência espiritual. Mas, ainda assim, naquele momento em que a assembleia se levantava para se aproximar do altar e comungar, ficar no lugar nem sempre era fácil. “É complicado porque ficamos sós. Perguntava-me muitas vezes, a partir de certa altura: ‘Eu fico só e isso incomoda-me porque me sinto exposto? Porque o meu orgulho fica ferido?’ Mas ao longo do tempo Deus dá-nos a graça de podermos suportar e até ultrapassar essas situações.”

Obediência que abre portas
Aos poucos percebeu que a obediência aos ensinamentos da Igreja também dava os seus frutos: “A falta da comunhão eucarística levou-nos a querer viver a Eucaristia de forma muito mais intensa. Obviamente Deus responde sempre àqueles que o procuram com intensidade e Deus foi-nos dando as forças necessárias e suficientes para podermos viver essa maneira de estar, mas também nos foi dando as graças necessárias e os consolos para percebermos que a comunhão eucarística é importante mas não é o todo, que Deus vai muito além disso. Houve momentos muito importantes da nossa vida, momentos de comunhão extraordinária que nos davam a presença do Deus Vivo e nos davam a certeza de estarmos a fazer o que era certo.”

Desses tempos Joaquim aprendeu que a obediência abre as portas de Deus, mas também dos homens.

“Se nós obedecermos e se estamos dispostos, as portas abrem-se, não só as portas de Deus, para nos acolher, mas também as portas dos homens”, diz. “Percebem que há uma disposição para estar e então começam a chamar mesmo as pessoas nessas situações para ajudarem também, para se sentirem mais em Igreja”.

Começou a ser convidado para o coro, depois para o conselho pastoral. “Não posso dizer de maneira nenhuma que alguma vez me senti excluído, nem me senti colocado de lado. A verdade é que muitas vezes somos nós que nos excluímos e nos colocamos de lado.”

Na sua experiência, cimentada pelo acompanhamento de muitos casais que passaram, ou passam ainda, pela mesma situação que ele passou, Joaquim considera que estes só há a ganhar em viver serenamente a situação em fidelidade à Igreja.

“Os casais que vivem estas situações em obediência à doutrina da Igreja vivem normalmente uma espiritualidade bastante profunda, vivem uma paz e uma harmonia entre o casal e na família que normalmente não vejo naqueles que vivem contestando permanentemente, ou em desobediência. Reparo nesses uma irritação latente, que pode advir da contestação, mas também de, no fundo, estarem divididos lá dentro”, considera.

Para o sínodo que se aproxima, Joaquim não antevê, nem se diz favorável a uma mudança da disciplina da Igreja a este respeito, mas vê com bons olhos a reforma dos processos de nulidade, para ter em conta, por exemplo, a falta de fé dos noivos: “Normalmente, pensamos naqueles casos em que a pessoa mentiu, a pessoa já era casada, mas não pensamos na falta de fé. Se há coisa que é essencial para a validade de um sacramento é a fé.”

Seja como for, a ideia de obediência é para manter, garante: “O que a Igreja disser é o que aceito no meu coração. Não faço tenções de discutir sequer. Se a Igreja disser que a partir deste momento podem comungar, fico felicíssimo, contentíssimo. Se disser que não podem fico felicíssimo e contentíssimo na mesma.”

O sínodo para a família começa no dia 5 de Outubro e termina no dia 19. Para 2015 está marcado um segundo sínodo, mais alargado e só em 2016 é que se esperam eventuais resultados de todo o processo, que estarão sempre nas mãos do Papa Francisco.

Filipe d'Avillez

Rádio Renascença

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