A fé é,
primeiro, a raiz através da qual se desenvolve a vida, a decisão fundamental de
perceber Deus e de o aceitar. E é a chave graças à qual se explica tudo o mais.
Essa fé
significa esperança, porque, do modo como é, o mundo não é bom sem mais e não
devia continuar a ser como é. Quando se olha para ele de um ponto de vista empírico,
poder-se-ia pensar que o mal é a principal força no mundo. Esperar, num sentido
cristão, significa conhecer a existência do mal e, apesar disso, olhar com confiança
para o futuro. A fé assenta, essencialmente, em aceitar o facto de que se é amado
por Deus. Não significa, portanto, apenas dizer-lhe sim, mas significa dizer
sim à Criação, às
criaturas, sobretudo ao homem: é procurar ver em cada um a imagem de Deus e
tornar-se, desse modo, uma pessoa que ama.
Isto não é
fácil. Mas graças ao sim fundamental [da fé], graças à convicção de que Deus criou
o homem e o apoia, [...] o amor pode encontrar a sua razão de ser e fundamentar
a esperança a partir da fé. Nessa medida, a esperança contém o elemento de
confiança perante a nossa História ameaçada, mas nada tem a ver com utopia; o
objeto da esperança não é o mundo melhor do futuro, mas a vida eterna. A
expectativa de um mundo melhor não resolve nada, porque esse não é o nosso
mundo, e cada um tem de viver com o seu mundo, com a dimensão do seu próprio
presente. O mundo das gerações futuras será marcado pela liberdade dessas gerações
e só pode ser determinado por nós de modo muito limitado. Mas a vida eterna é o
meu futuro e, portanto, a força que marca a História.
(Cardeal
Ratzinger em ‘O sal da terra’ págs. 94-95)
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