Faz hoje um ano houve fumo branco na Capela Sistina. Jorge Bergoglio, o Papa Francisco acabava de ser eleito. De início, houve logo quem o acusasse de ter apoiado a ditadura argentina quando era Cardeal de Buenos Aires. Desfeito esse ataque, pela prova que, ao contrário, ajudara muitos perseguidos pela ditadura, Francisco tornou-se pop, 'cool', super-Papa, amigo dos homossexuais na revista Advocate (por ter citado um artigo do catecismo [i] ), capa da Rolling Stone, homem do ano na Time e figura mediática por tudo quanto é sítio.
Luke Coppen, na revista britânica The Spectator faz uma descrição deste fenómeno que eu, pessoalmente, subscrevo e cito: "pura e simplesmente pensam que ele é tão avesso aos dogmas católicos como eles próprios. Ou seja, pensam que ele não é católico".
Mas é. Se alguém é católico, ou melhor, cristão, é este Papa. Quando ele não cumprir a agenda mediática que os mediáticos esperam, não sei como será tratado. Para já, todos o amam e todos o querem ouvir, mesmo quando ele diz coisas que poderiam parecer desagradáveis acaso saíssem da boca de Ratzinger ou Wojtyla. Vou falar de uma delas. Diz o Papa que esta "economia mata" - a esquerda exulta, mas, parte dela, não ouve o resto. E o resto é que esta economia é fruto de um sistema relativista de valores, de uma hierarquia errada de prioridades que a mesma esquerda foi estabelecendo como norma. A outra parte é que o Papa nos incentiva - quase nos incomoda na maneira como fala nisso - a desinstalar-nos, para que a vida possa ser menos penosa para todos. Ora os defensores dos direitos adquiridos devem sentir-se tão incomodados como os milionários. Desinstalar-se quer dizer o que ninguém quer ouvir: mudar de vida, para uma forma mais frugal, mais espiritual, menos consumista e menos materialista.
Se Francisco é revolucionário, como alguns dizem, é de uma revolução que tem poucos adeptos na política. Aí temos um Papa imaginário que não segue o Papa real. Um Papa 'pop' que é o mesmo que condena "a espécie de progressismo adolescente que gira à sua volta" ou aquele que manda o Vaticano desmentir que tenha abolido o pecado, ao contrário do que chegou a noticiar o circunspecto La Reppublica. Do outro temos o Papa implacável que quer reformar o Vaticano, acabar com as mordomias excessivas e não ser refém daquela cúria onde encontrou muita corrupção. Politicamente, não agradará aos lados tradicionais. Mas, tal como Jesus, ele veio para incomodar os instalados - "Eu vim para pôr o fogo na terra (...) para trazer divisões"
Que tenha saúde e força para o fazer!
Henrique Monteiro in Expresso online AQUI
[i] Os homossexuais devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição.
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