Levemos estas considerações às batalhas da própria luta
interior. Podemos ser santos, devemos ser santos, apesar dos nossos defeitos e
das nossas quedas, porque Deus nos chamou a entrar na intimidade da Sua vida
divina como Seus filhos em Jesus Cristo, e nos oferece todos os remédios. Com a
graça dos Sacramentos e na oração, torna-se mais acessível cumprir os
Mandamentos da lei divina e a fidelidade aos deveres próprios do estado de cada
um. O Decálogo não é um conjunto de preceitos negativos, mas de
indicações concretas para sair do deserto do «eu» autorreferencial,
fechado em si mesmo, e entrar em diálogo com Deus, deixando-se abraçar pela Sua
misericórdia, a fim de a irradiar [7].
Peçamos ao Senhor que nos conceda uma fé forte, que dê vida a toda a
nossa atuação. Certamente acreditamos na Palavra de Deus,
admiramo-nos ao ler e meditar o Evangelho, mas talvez ele não se enraíze
profundamente nas nossas almas até ao ponto de transformar todas e cada uma das
nossas ações. E quando chega a dificuldade, a aridez, a resistência do
ambiente, talvez desanimemos. Não será que a nossa fé se acha como que
adormecida? Não teremos de contar mais com a ação do Paráclito, que
inabita na alma pela graça? Não acontecerá que às vezes confiamos demais nas
próprias forças? Meditemos na transformação dos Apóstolos no Pentecostes, e
ajustemo-nos a essa orientação do Senhor, que Se nos comunica também através
das práticas de piedade cristã que a Igreja sempre recomendou: a oração mental,
as jaculatórias e orações vocais, principalmente o Terço, o oferecimento de
pequenos sacrifícios, o cuidado no exame de consciência, o trabalho bem acabado
na presença de Deus.
A vida interior – ensinava o nosso Padre – não é
sentimento. Quando vemos com clareza que vale a pena gastar-se um dia e outro,
um mês e outro mês, e outro ano, e a vida inteira, porque o Amor no Céu nos aguarda
depois, que grande luz recebemos! É preciso guardar tudo isso, filhos da
minha alma. Fazer na nossa alma como que uma barragem que recolha todas essas
graças de Deus: a clareza, a luz, a doçura da entrega. E quando chegar a noite,
a escuridão, a amargura, havemos de nos lançar no meio das águas limpas da
graça do Senhor. Mesmo que nesse momento esteja cego, vejo; mesmo que esteja
seco, sei-me regado pelas águas que saem do Coração de Cristo até à vida
eterna. E então, meus filhos, perseveraremos na luta [8].
Estaremos assim em condições de ajudar outros, para que também caminhem de
forma expedita pelas sendas da fé. Com efeito, a fé não só olha para
Jesus, mas olha também a partir da perspetiva de Jesus e com os Seus
olhos: é uma participação na Seu maneira de ver [9]. E o Senhor tinha
olhos para cada pessoa singularmente considerada e para a multidão no seu
conjunto. Por cada um e por todos desceu a este nosso mundo, e por todos e por
cada um prossegue a Sua obra salvadora. A nossa missão concretiza-se assim em
pôr em contacto com Jesus quantas pessoas encontrarmos no caminho da nossa
existência, começando pelas mais próximas. Assim fizeram os primeiros cristãos,
que conseguiram a conversão do mundo pagão.
[7]. PAPA
FRANCISCO, Carta enc. Lumen fídei, 29-VI-2013, n. 46.
[8]. S. JOSEMARIA, Notas de uma reunião familiar,
17-II-1974.
[9]. PAPA FRANCISCO, Carta enc. Lumen fídei, 29-VI-2013,
n. 18.
(D. Javier Echevarría, Prelado do Opus
Dei na carta do mês de dezembro de 2013)
© Prælatura Sanctæ
Crucis et Operis Dei
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