GONÇALO PORTOCARRERO DE ALMADA*
O Padre José Afonso Guedes faleceu, no passado dia 5, de morte sobrenatural. Mais de trinta anos de fraterna amizade explicam que esta evocação não possa ser feita sem alguma emoção, que não tolda o meu juízo. Nem a minha fé pascal.
Não me envergonham as lágrimas, porque as vi correr na face de Jesus. Se Ele, que é perfeito Deus e homem perfeito, chorou a morte de Lázaro, embora fosse iminente a sua ressurreição, porque hei-de esconder a minha dor, não obstante a absoluta certeza de que quem crê em Cristo não morrerá, mas viverá para sempre?! Não tenho vergonha de chorar um amigo, porque não tenho vergonha de o amar em Jesus.
Um padre é um homem qualquer. Nasce e morre como toda a gente. Mas, como sacerdote, é Cristo, outro Cristo, o mesmo Cristo. Só Deus conhece a grandeza da dignidade sacerdotal. Deus e o diabo. Configurados com Cristo-Cabeça pelo Sacramento da Ordem, os padres são um alvo preferencial do inimigo de Deus. Por isso, Pedro advertia: «vigiai, porque o demónio, vosso adversário, anda ao vosso redor, como um leão que ruge, buscando a quem devorar. Resisti-lhe firmes na fé».
Não estive a seu lado no momento da partida, repentina e inesperada, mas quero crer que, aparentemente vencido pelo mal, dele saiu vencedor. Não em vão serviu o altar tantos anos e a tantos milhares de almas libertou, pela sua generosa e sacrificada dedicação ao Sacramento da Penitência. Obrigado, Padre José A. Guedes!
Outros diriam que foi a voragem do abismo que o atraiu, mas eu sei que não. Foi Deus que o chamou a Si, porque só Deus tem os que mais ama. A Deus!
*Padre. Escreve ao sábado.
Ver texto entretanto publicado em http://www.ionline.pt/opiniao/deus
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