Na audiência geral desta quarta-feira, 10 de Outubro, véspera da celebração dos 50 anos da abertura do Concílio Ecuménico Vaticano II, com o início do Ano da Fé, Bento XVI dedicou a sua costumada catequese precisamente ao Concílio, do qual – recordou – foi testemunha pessoal.
“Para mim foi uma experiência única: depois de todo o fervor e entusiasmo da preparação, pude ver uma Igreja viva – quase três mil Padres conciliares de todas as partes do mundo reunidos sob a guia do Sucessor do Apóstolo Pedro – que se põe à escuta do Espírito Santo, o verdadeiro motor do Concílio. Raras vezes na história se pôde, como então, tocar concretamente a universalidade da Igreja…”
Bento XVI recordou, fazendo sua, a afirmação de João Paulo II, no limiar do terceiro: “Sinto mais do que nunca o dever de propor o Concílio como a grande graça de que a Igreja beneficiou no século XX: nele se oferece uma bússola segura para nos orientar no caminho do século que se abre”. “Parece-me eloquente esta imagem. Os documentos do Concílio Vaticano II, a que há que regressar, libertando-os de uma massa de publicações que frequentemente, em vez de os dar a conhecer, os esconderam, são, também para o nosso tempo, uma bússola que permite à nave da Igreja avançar pelo mar dentro, no meio de tempestades ou com ondas calmas e tranquilas, para navegar com segurança e chegar à meta”.
O Papa recordou que na história da Igreja, em geral os Concílios Ecuménicos foram convocados para definir elementos fundamentais da fé, corrigindo erros que a punham em perigo. No caso do Concílio Vaticano II, não havia especiais questões de doutrina ou de disciplina a esclarecer. Daí a grande surpresa que suscitou inicialmente o anúncio do Concílio. A primeira questão foi, portanto, clarificar que tarefa precisa iria ter. O Beato João XXIII deu, no discurso de abertura, há 50 anos, uma indicação geral:
“O Papa desejava que a Igreja refletisse sobre a sua fé, sobre as verdades que a guiam. Mas desta série e aprofundada reflexão sobre a fé, haveria de delinear de modo novo a relação entre a Igreja e a idade moderna, entre o Cristianismo e certos elementos essenciais do pensamento moderno, não para se conformar com ele, mas para apresentar a este nosso mundo, que tende a afastar-se de Deus, a exigência do Evangelho em toda a sua grandeza e em toda a sua pureza”.
Para além desta catequese mais desenvolvida, em italiano, Bento XVI sintetizou em diferentes línguas, o essencial do seu pensamento. Estas as palavras pronunciadas em português:
Queridos irmãos e irmãs,
Amanhã, estaremos celebrando os 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II e o início do Ano da Fé. Hoje, queria refletir sobre a importância que este Concílio teve na vida da Igreja, um evento do qual fui uma testemunha direta. Foi uma oportunidade de ver uma Igreja viva: quase três mil Padres conciliares vindos de todas as partes do mundo, reunidos sob a guia do Sucessor do Apóstolo Pedro; era possível quase tocar de modo concreto a universalidade da Igreja. O Concílio Vaticano II, ao contrário dos Concílios precedentes, não foi convocado para definir elementos fundamentais da fé, corrigindo erros doutrinais ou disciplinares, mas tinha como objetivo delinear de um modo novo a relação da Igreja com a idade moderna: não para conformar-se a ela, mas para apresentar a este mundo, que tende a afastar-se de Deus, a beleza da fé em toda a sua grandeza e pureza, para que todos os homens possam conhecer o Evangelho e encontrar o Senhor Jesus, como caminho, verdade e vida.
Saúdo todos os peregrinos de língua portuguesa, especialmente os diversos grupos de brasileiros, com votos de que esta peregrinação vos sirva de estímulo para aprender a redescobrir a cada dia a beleza da fé, para que tenhais uma união sempre mais intensa com Cristo, vivendo plenamente a vossa vocação cristã. Que Deus vos abençoe! Obrigado.
Novidade de relevo, nesta audiência geral: pela primeira vez na história a língua o árabe foi também utilizada, tanto na apresentação dos respetivos peregrinos, mas também com a apresentação de uma síntese da catequese papa e mesmo com uma breve saudação de Bento XVI.
Esta inovação, que se situa em continuidade com a recente viagem do Papa ao Líbano e a publicação da Exortação Apostólica "Ecclesia in Medio Oriente", corresponde (como afirma numa nota a Sala de Imprensa) ao "desejo do Santo Padre de manifestar assim o seu incessante interesse e o seu apoio aos cristãos do Médio Oriente, recordando a todos o dever de rezarem e de se empenharem pela paz na região."
Rádio Vaticano
Vídeo em italiano
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