O Brasil vive a expectativa da visita do Papa Francisco, que vem ao nosso país para a Jornada Mundial da Juventude, a realizar-se no Rio de Janeiro de 23 a 28 de julho. É sua primeira viagem internacional desde que assumiu o pontificado há quatro meses. Essa circunstância é motivo suficiente para despertar o interesse de todo o mundo, que, encantado, acompanha os primeiros passos do bispo de Roma. Ele chama a atenção, sobretudo, por ser o primeiro Papa latino-americano, além de ter adotado o simbólico nome de Francisco, tão caro a crentes e não-crentes.
O sorriso e a simplicidade do Papa, sua proximidade com os pobres e a sistemática lembrança deles em seus gestos e palavras revelam Francisco como um pastor disposto a se derramar de zelo e amor pelas ovelhas. Suas palavras, simples e diretas, nascidas de um coração tomado de profundo desvelo pastoral, atingem o íntimo das pessoas, que se identificam rapidamente com elas por se referirem ao seu cotidiano. A leveza com que o Papa as pronuncia, sem prejuízo à sua clareza, profundidade e força, traz novo vigor à Igreja e faz renascer o entusiasmo da fé.
Com firmeza, mas sem perder a ternura, o Papa Francisco tem indicado caminhos para a renovação de estruturas, desejada há tempos pela Igreja. Sua abertura para o diálogo ecumênico e inter-religioso, em continuidade com os seus antecessores, enche-nos de esperança e nos faz vislumbrar a consolidação da unidade que nasce do respeito e do amor fraterno.
No Rio de Janeiro, junto aos jovens do mundo inteiro, teremos a oportunidade de nos aproximar ainda mais de Francisco para beber da espiritualidade que exala de seus gestos e palavras. Aqui ele vem para "confirmar seus irmãos na fé", tarefa dada por Cristo a Pedro, confiada depois aos seus sucessores. Ao fazê-lo, de forma especial em relação aos jovens, Francisco vem conclamá-los a conformarem sua vida a Cristo, fazendo-se seus discípulos-missionários no compromisso de anunciá-lo a todos os povos.
A visita do Papa dará, por certo, novo ânimo à evangelização da juventude, que tem merecido atenção especial da Igreja no Brasil nos últimos anos. Embora tenhamos muitos jovens actuantes em nossas comunidades, preocupa-nos o contingente dos que delas se afastaram. Não é que deixaram de acreditar em Deus. A fé continua acesa em seu coração, porém já não sentem a necessidade da mediação da Igreja para viver e testemunhar sua fé. As palavras do Papa, inspiradas no evangelho de Cristo, haverão de abrir os olhos e os corações dos afastados a fim de que retornem ao convívio da comunidade de fé.
Não passará também despercebido ao Papa, o recente contexto político-social protagonizado de maneira intensa pela juventude brasileira. Ainda ecoa em nossos ouvidos o clamor de centenas de milhares de jovens que, enchendo praças e ruas de nosso país, mostraram indignação com estruturas de poder e ações de governo que ferem a vida e desrespeitam a dignidade humana.
As recentes manifestações em nosso país são um sinal de que, diante da situação de sofrimento em que se encontram tantos brasileiros, os jovens não se deixaram contaminar pela cultura do bem-estar que leva à indiferença a respeito dos outros, conforme lembrou o Papa, recentemente, em Lampedusa, na Itália. Para ele, "a globalização da indiferença torna-nos a todos "inominados", responsáveis sem nome nem rosto". Não queremos uma juventude alienada e indiferente!
A Igreja respira novos ares com o primeiro Papa latino-americano. Dele se espera muito também para a construção da paz no mundo. Que sua presença entre o povo brasileiro nos anime no compromisso com a fé, a solidariedade e a justiça social. Bem-vindo, Papa Francisco!
RAYMUNDO DAMASCENO ASSIS
Cardeal arcebispo de Aparecida presidente da CNBB
(© L'Osservatore Romano - 21 de Julho de 2013)
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