No final permanece a questão – apenas uma breve palavra – do Baptismo das crianças.
É justo fazê-lo, ou seria mais necessário percorrer primeiro o caminho catecumenal para alcançar um Baptismo autenticamente realizado?
E outra pergunta que se apresenta sempre é a seguinte:
«Mas podemos impor a uma criança a religião que ela há-de viver ou não?
Não devemos deixar à criança a escolha?»
Estas perguntas demonstram que já não vemos na fé cristã a vida nova, a vida verdadeira, mas vemos uma escolha entre outras, e também um peso que não se deveria impor sem obter o assentimento da parte do sujeito.
A realidade é diferente.
A própria vida é-nos dada sem que nós possamos escolher se queremos viver ou não; a ninguém pode ser perguntado: «Queres nascer ou não?».
A própria vida é-nos dada necessariamente sem consentimento prévio, é-nos concedida assim e não podemos decidir antes «sim ou não, quero viver ou não».
E, na realidade, a pergunta verdadeira é:
«É justo dar a vida neste mundo, sem ter recebido o consentimento – queres viver ou não?
Pode-se realmente antecipar a vida, dar a vida sem que o sujeito tenha tido a possibilidade de decidir?».
Eu diria: só é possível e justo se, com a vida, podemos oferecer também a garantia de que a vida, com todos os problemas do mundo, é boa, que é bom viver, que existe uma garantia de que esta vida é boa, é protegida por Deus e que é um dom autêntico.
Só a antecipação do sentido justifica a antecipação da vida.
E por isso o Baptismo como garantia do bem de Deus, como antecipação do sentido, do «sim» de Deus que protege esta vida, justifica também a antecipação da vida.
Por conseguinte, o Baptismo das crianças não é contrário à liberdade; é precisamente necessário oferecê-lo, para justificar também o dom – que doutra maneira seria questionável – da vida.
Só a vida que está nas mãos de Deus, nas mãos de Cristo, imersa no nome do Deus trinitário, é certamente um bem que se pode oferecer sem escrúpulos.
E assim estamos gratos a Deus que nos concedeu esta dádiva, que se deu a Si mesmo a nós.
E o nosso desafio consiste em viver este dom, em vivê-lo realmente, num caminho pós-baptismal, tanto as renúncias como o «sim», sempre no grande «sim» de Deus, e deste modo viver bem.
CONGRESSO ECLESIAL DA DIOCESE DE ROMA
"LECTIO DIVINA" DO PAPA BENTO XVI
Basílica de São João de Latrão
Segunda-feira, 11 de Junho de 2012
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