Obrigado, Perdão Ajuda-me

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As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O BURRICO DO PRESÉPIO DE BELÉM por António Faure (parte integrante e insubstituível do nosso imaginário)

Hoje, leitor amigo, em quem penso enquanto escrevo, veio-me à lembrança a história do burrico do Presépio de Belém que um dia li deliciado.

Dias a fio, perseverantemente, aquele burrico humilde, aparentemente destinado a não ter história - era apenas um entre tantos outros - aqueceu. com a sua presença e o seu bafo, o Menino Jesus.

Mas um dia, na vida de cada um de nós há sempre um dia, uma grande azáfama inundou o local. Gente da estranja, com fatos multicolores, vasta criadagem, montada em camelos, perguntava afanosamente pelo Rei que vinha adorar.

O burrico estava espantado: quanta luz, quanta riqueza, quanta história maravilhosa de viagens e terras distantes... Mas, o que mais lhe chamava a atenção eram os camelos... "Como deve ser bom - pensava ele - ser camelo! ... esguio, pernas ágeis e resistentes, a bossa coberta de finas roupagens, transportando gente importante..."

Quando os Magos partiram, o burrico, como que hipnotizado, sem um adeus, abandonou o Presépio e seguiu a lustrosa caravana. Seguiu-a de longe, receoso de ser enxotado, com medo das feras e de um formigueiro que sentia percorrer-lhe todo o corpo... Com sede, aproximou-se de um regato que corria perto. Ficou espantado. "Não! Não podia ser!" Olhou em volta e depois olhou para si ... De facto não era ilusão. 0 burrico do Presépio transformara-se num jovem e esbelto camelo orgulhoso, muito orgulhoso da sua bossa.

À noite nem dormiu. Sonhou com o futuro que tão estranhamente, se lhe abria radioso. Depois os dias passaram correndo em tumultuosas e constantes novidades que lhe faziam abrir a boca de espanto.

De vez em quando, durante o tropear das viagens ou no silêncio da noite, parecia-lhe ouvir o galrejar do Menino, sentir a mão da Senhora que lhe acariciava a manchita branca da testa, ver os gestos serenos de José que o mimava com palavras enquanto lhe acomodava a palhita fresca e saborosa. "Atavismos! Falta de maturidade!" pensava o burrico que entretanto se civilizara e aprendera algumas verdades científicas... E de novo se emaranhava no tumulto que o envolvia.

Mas um dia, na vida de cada um de nós há sempre um dia, a saudade do Presépio pungiu-o mais fundamente... E sem hesitações, sem olhar para trás, num rápido galope pôs-se a caminho de Belém.

Quando chegou empurrou a porta com o focinho para entrar. Mas... que desilusão! A bossa aquela bossa de que tanto se orgulhara um dia, impedia-o agora de passar pela porta demasiado pequena para a sua corpulência. Tentou rastejar mas... nem assim.

Então desamparado, deitou-se à porta chorando amargamente... E, mistério profundo! À medida que as lagrimas, lhe caíam dos olhos e regavam o chão, aquela bossa que o impedia de entrar, ia-se desfazendo lentamente... Uma suave brisa afastou as nuvens e o luar inundou a terra... Por entre lágrimas, o burrico viu a sua imagem reflectida, a imagem do burrico do Presépio que regressava a casa. E, sem ruído, foi ocupar o seu lugar.

Aqui interrompo a história do burrico do Presépio. Imagino, que fez história servindo, até ao fim dos seus dias, a Jesus, apesar de algumas teimosias, zurros e pinotes toleráveis num burrico.

Aqui entronca também a história de cada um de nós, os homens e as mulheres, que, vezes sem conta, abandonamos o Presépio ofuscados por ouropéis falaciosos.

Cada dia do ano será Natal, como o leitor e eu desejamos, se, quando fugirmos, soubermos, com dor de amor e humildade, voltar para Jesus. Se o fizermos sentiremos na nossa a Sua mão reconfortante; sentiremos o afago de Santa Maria, Mãe, de Deus e nossa Mãe; ouviremos a voz forte e serena de S. José, nosso Pai e Senhor a dizer-nos: "Ânimo! Arrebita essas orelhas! Juntos temos muito caminho para andar".

Para si leitor, para todos, desejo um Bom Natal e Feliz Ano Novo.

António Faure em Dezembro de 2010

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