A passagem bíblica (Jo 4, 1-30) que nos é proposta, para iniciar a caminhada dos grupos de Lectio Divina, como preparação para a visita pastoral à nossa paróquia, do nosso Bispo, D. António Marto, relata-nos o encontro de Jesus Cristo com a Samaritana, junto ao poço de Sicar.
É com certeza uma passagem bem conhecida de todos, mas sempre que a lemos, sempre que a meditamos, sempre que a rezamos, podemos encontrar “coisa” nova, porque a Palavra de Deus é sempre viva, é sempre vida.
Hoje podemos perceber esta passagem como uma catequese, um modelo, um “guia de instruções”, que o Senhor Jesus nos dá para, guiados pelo Espírito Santo, sermos obreiros da evangelização.
Jesus faz-se encontrado com aquela mulher, junto ao poço, não como alguém superior, não como alguém que vai ensinar o que quer que seja, mas como uma pessoa “normal”, cansada, carente, que necessita do outro.
A sua primeira atitude é pedir, «Dá-Me de beber», e não se preocupa em nada com as regras sociais estabelecidas, com distinção de classes sociais, ou com outras “vergonhas” que pudessem existir.
Rompe assim com um possível distanciamento com aquela a quem se dirige, e provoca nela a curiosidade de tentar perceber quem é aquele homem que dela se aproxima sem medo, e sem receio do que possam dizer.
Esta atitude de Jesus, transmite à mulher, para além da natural curiosidade, uma firmeza de carácter, que leva á confiança naquele que assim se lhe dirige.
A curiosidade leva ao diálogo, porque a mulher precisa de perceber o porquê daquela atitude de Jesus.
Jesus aproveita então para lhe falar de algo que parece ser muito bom, algo que está disponível, mas que vai para além do normal do dia-a-dia.
Obviamente, a incredulidade faz-se presente na mulher, e ela opta por querer apenas “ver” o que é visível, por isso regressa à água do poço e à impossibilidade de a tirar sem um balde.
Mas Jesus, que já prendeu a sua atenção, vai agora abrir-lhe “o apetite” para algo que é muito maior do que a água do poço, e com a firmeza das suas palavras, fá-la ansiar por uma vida que ela quer reconhecer como a verdadeira vida.
E a mulher não resiste e pede a Jesus que lhe dê “aquilo” tão extraordinário de que Ele fala.
Mas para que a vida do dia-a-dia se conforme com a verdadeira vida que o Senhor dá, é preciso mudança de vida, mudança de prioridades, mudança de atitudes, é preciso conversão, e Jesus mansamente, sem julgamento, nem condenação, coloca-a perante as fraquezas da sua vida.
E a mulher reconhece-se na sua fragilidade, na sua fraqueza, e o seu coração abre-se à presença d’Aquele que lhe mostra o caminho.
Perante esta abertura da mulher, Jesus revela-se e o encontro dá-se, confirma-se e quando este encontro acontece, a vida muda, renova-se e deixa de ser vida individual, para passar a ser vida para os outros também, daí a necessidade que a mulher tem de ir contar aos outros a alegria, a novidade, que agora habita nela.
Pelo seu testemunho os outros aproximam-se, encontram-se também com o Senhor, e percebem então que já não é pelas palavras da mulher que acreditam, mas porque também se deixaram encontrar por Jesus Cristo.
Tantos passos e no entanto tão simples, que nos levam a pensar que testemunho damos nós, cristãos católicos, que atitudes tomamos nós, quando falamos aos outros de Jesus Cristo.
Quem procuramos nós para falar de Jesus?
É que somos tão “corajosos” a falar de Deus com aqueles que estão connosco em Igreja, mas sê-lo-emos também com os que estão á “beira do poço”?
E quando o fazemos, tomamos nós a atitude de quem tudo sabe, de quem tudo quer ensinar, ou aproximamo-nos humildemente e ouvindo, aproveitamos, guiados pelo Espírito Santo, para colocar Deus no dia-a-dia daquele com quem falamos?
E damos nós verdadeiro testemunho de tudo o que falamos, ou somos como o velho provérbio:
«Bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz»?
Precisamos, enquanto comunidade paroquial, perceber se estamos fechados na nossa comunidade, ou se nos abrimos àqueles que estando fora, o Senhor chama à comunhão.
Precisamos perceber, se os sabemos acolher de tal modo, que eles sintam que precisamos deles, que eles percebam que a comunidade anseia pela sua vinda, pela sua comunhão, porque só assim se “faz” Igreja.
E precisamos entender que, sozinhos, por nós próprios, nada conseguimos, mas apenas em comunhão com Deus e com os irmãos, e que esta comunhão só se realiza em Igreja, na celebração dos Sacramentos, na vivência diária da fé, na prática da oração individual e colectiva.
A visita do nosso Bispo pode ser um momento para nos colocarmos perante as nossas fragilidades, mostrando o que fazemos, o que fizemos, e esperando a palavra do pastor que nos oriente no que havemos de fazer.
Coloquemo-nos à “beira do poço”, mostremos o que somos, e acolhendo o Senhor D. António Marto, com ele encontremos caminho para continuarmos e dando testemunho na cidade do nosso encontro, outros se aproximem, não por aquilo que dizemos ou fazemos, mas porque, pela graça do Espírito Santo, testemunhamos Jesus Cristo, vivo e presente no meio de nós e em nós.
Marinha Grande, 3 de Novembro de 2011
Joaquim Mexia Alves em http://queeaverdade.blogspot.com/2011/11/jesus-samaritana-visita-pastoral-do.html
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