As proezas gloriosas dos mártires, que por todo o lado ornam a Igreja, permitem-nos compreender a verdade daquilo que foi cantado: «É preciosa, aos olhos do Senhor, a morte dos Seus fiéis» (Sl 115,15). Com efeito, ela é preciosa aos nossos olhos e aos olhos d'Aquele em nome de Quem eles morreram.
Mas o preço de todas aquelas mortes é a morte de um só. Quantas mortes resgatou ao morrer sozinho porque, se não tivesse morrido, o grão de trigo não se teria multiplicado? Haveis ouvido o que Ele disse quando se aproximava a Sua Paixão, isto é, quando se aproximava a nossa redenção: «Se o grão de trigo lançado à terra não morrer, fica ele só; mas se morrer dá muito fruto». Quando o Seu lado foi ferido pela lança, o que dele jorrou foi o preço do universo (cf Jo 19,34).
Os fiéis e os mártires foram resgatados; mas a fé dos mártires deu provas e o seu sangue é disso testemunho. «Cristo deu a Sua vida por nós ; também nós devemos dar a nossa vida pelos nossos irmãos» (1Jo 3,16). E noutro lado é dito ainda: «Quando te sentas a uma mesa magnífica, repara bem no que te servem pois terás de preparar o mesmo» (cf Pr 23,1). É uma mesa magnífica, aquela em que comemos com o Senhor do banquete. Ele é o anfitrião que convida, Ele próprio é o alimento e a bebida. Os mártires prestaram atenção ao que comiam e bebiam para poderem dar o mesmo. Mas como teriam eles podido dar o mesmo se Aquele que fez a primeira oferta não lhes tivesse dado o que eles dariam? É isso que nos recomenda o salmo de onde retirámos esta frase: «É preciosa, aos olhos do Senhor, a morte dos Seus fiéis».
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (África do Norte) e doutor da Igreja
Sermão 329, para a festa dos mártires, 1-2; PL 38, 1454
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
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