Considere o seguinte cenário: está numa loja com os seus filhos a comprar artigos para a sua casa quando, de repente, eles o arrastam até à secção dos brinquedos, implorando para que lhe compre outra figura dos Star-Wars, uma boneca, um conjunto da lego, ou qualquer outro brinquedo de plástico que eles gostem.
Enquanto apanha o objecto e olha para o preço, o seu filho continua a insistir, disparando uma série de razões sobre o porquê de precisar de mais aquele brinquedo: "É tão fixe"; "Eu realmente gosto dele"; "Vai ser o meu brinquedo favorito de todos os tempos"; "Os meus brinquedos antigos são tão aborrecidos"; "Todos os meus amigos têm um"; "Tu compras sempre brinquedos para os manos"; "Tu nunca me compras nada"; etc...
Como pai, fica tão saturado com todos estes "ataques" do seu filho que, contra todo o bom senso, acaba por ceder.
E que faz?
- a)atira o brinquedo para o seu carrinho de compras porque quer fazer o seu filho feliz e preservar a sua própria sanidade mental;
- b) diz-lhe que irá comprar o brinquedo para o seu aniversário, prometendo que lhe vai comprar donuts se ele não resmungar;
- c) tenta desviar-lhe a atenção;
- d) retira o seu filho choramingão da secção dos brinquedos, vociferando que nunca mais vai com ele às compras.
Quer acredite quer não, estes são momentos de aprendizagem valiosos. Isto pode ser o inicio para ajudar os seus filhos a crescer em paciência, desenvolver auto-controlo, gerir a pressão dos pares e aprender como ser financeiramente responsável. Mas isto só acontecerá se conseguir, de forma carinhosa mas firme, dizer-lhe " Não, agora não. Nada de resmungar, não há negociação possível. Vamos falar nisso mais tarde."
Aqui ficam algumas ideias para transformar as suas idas ao supermercado em lições de vida para os seus filhos.
Distinga entre aquilo que apetece e aquilo de que precisamos. Quando um miúdo vê um brinquedo que realmente quer, ele muitas vezes acredita que precisa dele. Tente ensinar-lhe a diferença. Uma forma de não mimar demais os seus filhos é ensinar-lhes que aquilo de que necessitamos é importante e aquilo que nos apetece é supérfluo. Assegure-os que fará o seu melhor para lhes oferecer aquilo de que eles necessitam. Deixe para os amigos e familiares, nas alturas de aniversário e Natal, para lhes darem o que eles querem.
Evite comprar brinquedos e/ou roupas caras e de marca. Isto ajuda a desenvolver a ideia de distinguir apetece vs preciso. Uma criança precisa de pasta dos dentes. Mas o seu filho quer a pasta dos dentes que tem a imagem do Sponge Bob. Será que ele realmente precisa da pasta de dentes mais cara, quando uma pasta de dentes de marca branca também serve? A sua filha gostava imenso de dormir num pijama com as princesas da Disney nele desenhadas, mas convenhamos que dormirá tão bem num pijama Zara que custa metade do preço. E, a menos que uma determinada marca de roupa é mais cara porque é realmente de qualidade superior, você na realidade apenas está a gastar dinheiro numa marca. Explique isto aos seus filhos. Não se trata apenas de gastar mais uns euros nisto ou naquilo. Trata-se sim de adoptar um pensamento racional em relação a desejos imediatos. Esta atitude vai ajudar a criar um padrão de comportamento em relação ao modo como os seus filhos vão gastar (neste caso poupar) dinheiro que lhes ficará para o resto da vida.
Adie a gratificação. Os nossos filhos estão a crescer numa geração que vive do imediato e que se está a tornar impaciente - eles têm acesso a fotografias instantâneas, mensagens instantâneas e filmes instantâneos. Ensine-os a esperar pelas coisas que eles querem mas de que não precisam. As probabilidades dizem que, se o fizer esperar, por um período determinado, por certa coisa (3 ou mais meses) o seu desejo por essa coisa vai diminuir, ao ponto de se esquecerem dela. Se, depois de um longo período de espera, eles finalmente têm o que querem, os seus filhos vão usufruir e apreciar mais essa mesma coisa.
Faça compras com uma lista, e tudo o que não estiver na lista não compre. Isto ajuda a controlar as chamadas compras por impulso e torna claro para os seus filhos aquilo que lhes vai ou não comprar. Mantenha-se longe das secções de doces e de brinquedos, a não ser que estes façam parte da sua lista de compras. Isto poupar-lhe-á algum tempo e dará menos ideias aos seus filhos de coisas que eles queiram. Quando um dos meus filhos me pede para lhes comprar alguma coisinha insignificante, é tão libertador dizer-lhes "não posso, não está na lista". Quando me perguntam, "será que posso pôr na lista para a próxima vez?" eu simplesmente respondo "discutiremos isso mais tarde com o pai que é para ver se isso é realmente uma coisa de que tu precisas."
Ensine aos seus filhos o valor do euro. Quando o seu filho tiver idade suficiente para usar o dinheiro, dê-lhe uma pequena mesada. Como diz o ditado, "para ensinar o seu filho o valor de um euro, dê-lhe um cêntimo". Dê-lhe uma determinada quantia de dinheiro mensalmente ou de dois em dois meses, para que ele tenha que esperar um tempo para que possa gastar o dinheiro. Nunca lhe dê um adiantamento. Dê-lhe a mesada em notas. Desta forma, quando ele gastar o dinheiro, ele verá de que forma rápida as notas vão desaparecer. Encoraje-o a fazer poupanças, a pensar cuidadosamente antes de gastar dinheiro e a ser generoso a comprar pequenos presentes para os irmãos e para a família.
Recorde-o que o pouco é muito. É muito melhor dar aos seus filhos brinquedos educativos e de grande qualidade do que encher o quarto deles de brinquedos baratos que se partem facilmente e que em relação aos quais eles perdem rapidamente o interesse. Quanto menos brinquedos o seu filho tiver, mais os vai apreciar. Quanto menos vezes o levar à loja dos brinquedos, mais ele gostará de lá ir. Quanto menos brinquedos o seu filho tiver em casa, mais ele terá que partilhar. Quanto menos brinquedos existirem numa sala, mais espaço sobra para brincar. E, quanto menos brinquedos comprar, mais dinheiro poupa para pagar o colégio.
Resista à pressão. Um dos argumentos mais persuasivos que uma criança pode usar para o convencer a comprar qualquer coisa ridiculamente cara é dizer "toda a gente na escola tem. Eu vou ser o único a não ter". Aqui terá uma oportunidade excelente para construir a atitude do seu filho perante as pressões dos pares. Mas primeiro deve preparar-se a si próprio para resistir à pressão dos outros pais, família e amigos. Esteja preparado para enfrentar a crítica de outros pais, família e amigos. Partilhe com os seus filhos as razões para não comprar um determinado brinquedo muito popular e diga aos seus filhos que os está a educar de acordo com os seus padrões e de acordo com aquilo em que acredita, não com os padrões dos outros.
Mantendo-se firme, estará a ajudar o seu filho a viver de acordo com os seus princípios, sem ceder a pressões. Na adolescência, quando os colegas o pressionarem para beber ou tomar drogas, terá mais esperança que eles estejam acostumados a não fazer tudo o que os outros fazem e manterem-se firmes nas suas convicções. E isto ensinar-lhes-á também que o valor de uma pessoa advém não daquilo que ela tem mas sim daquilo que ela é.
Desenvolver uma atitude agradecida. Comparando com todas as crianças do mundo, os nossos filhos são extremamente privilegiados. Os nossos filhos usufruem de mais brinquedos, comida, conforto e mordomias, até mais do que os filhos de reis e rainhas de outros tempos. Além disso, enquanto o nosso filho se debate sobre que sabor de gelado escolher, outras crianças, do outro lado do mundo, estão a morrer à fome. Enquanto o seu filho se queixa que os seus brinquedos são aborrecidos, crianças de outras partes do mundo trabalham 12 horas por dia em fábricas poluídas. O preço de uma Barbie daria provavelmente para alimentar uma criança subnutrida em África durante um ano. Os nossos filhos precisam de saber isto. Leve-os a sair do seu egocêntrico mundo e deixe-os ver a pobreza e o sofrimento que existe em todo o mundo. Encoraje-os a doar alguns dos seus próprios brinquedos e dinheiro para crianças que sejam menos afortunadas. Ensine-os a serem gratos por aquilo que têm e relembre-os constantemente de quão abençoados são.
Modere e restrinja os seus próprios gastos. Faça um orçamento e mantenha-se fiel ao mesmo. Evite compras desnecessárias. Arranje forma de viver de maneira mais simples. O seu exemplo fala mais do que qualquer palavra.
Dizer que não a todas as coisas que o seu filho não precisa, numa base regular, não é fácil ou divertido. Na verdade, dá grande prazer a todos os pais ver a cara de alegria dos filhos quando eles têm um brinquedo novo ou qualquer outra coisa que eles desejem muito. Mas estes "nãos" são, na verdade, grandes "sins".
Eles são sins para as vozes da consciência e da razão. Sim contra a pressão dos pares. Sim em crescer em paciência e domínio sobre aquilo que se deseja. Sim à responsabilidade financeira e à liberdade. E sim a uma felicidade que dura muito mais do que bens materiais e fugazes.
Mary Cooney
O original deste artigo encontra-se em www.mercatornet.com
Aceprensa
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