Orígenes (cerca 185-253), presbítero e teólogo
Homilias sobre o livro dos Números, nº 23
O sábado foi instituído como um dia sagrado; todos os santos e todos os justos deviam celebrar o sábado. [...] Vejamos então em que consiste para o cristão a observância do sábado: no dia de sábado, não se deve realizar nenhuma obra deste mundo; é necessário abster-se de todas as obras terrenas, não fazer nada que se relacione com este mundo, dedicar-se às obras espirituais, ir à igreja, estar atento à leitura da Escritura e às explicações que dela são dadas, pensar em coisas do céu, ocupar-se da esperança na vida futura, ter presente o julgamento que há-de vir, meditar, não nas realidades visíveis e presentes, mas nas realidades futuras e invisíveis.
Os judeus também devem observar tudo isto. Em suas casas, os ferreiros, os pedreiros, todos os trabalhadores manuais ficam sem nada fazer no dia de sábado. Mas nesse dia, os leitores que proclamam a Sagrada Escritura, os doutores que explicam a Lei de Deus, não interrompem as suas funções, e no entanto não profanam o sábado. O meu Senhor o reconheceu: «Não lestes», disse-lhes Ele, «que ao sábado, no templo, os sacerdotes violam o sábado e ficam sem culpa?» Portanto, é aquele que se abstém das obras deste mundo e se torna livre para as actividades espirituais, é esse que oferece o sacrifício do sábado e santifica o sábado como um dia de festa. [...]
Durante o sábado, cada qual permanece na sua casa e não sai dela. Qual é pois esta casa da alma espiritual? Esta casa é a justiça, a verdade, a sabedoria, a santidade; tudo isso é Cristo, a casa da alma. Desta casa, não é necessário sair, quando se quer guardar o verdadeiro sábado e celebrar por sacrifícios este dia de festa, segundo as palavras do Senhor: «Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós» (Jo 15, 4).
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