Quando o Cardeal Joseph Ratzinger foi proclamado Papa, eu lembro-me como se fosse hoje da alegria de um padre amigo que estava de pé ao meu lado, na Praça de São Pedro. “Cardeal Ratzinger", disse ele, "era um cardeal-sacerdote”. Isso me proporcionou uma visão surpreendente, que agora me faz sentir aquele momento.
Bento XVI inaugurou o Ano Sacerdotal. É a primeira vez desde que a Congregação para o Clero foi fundada, no Concílio de Trento, que a Igreja dá esse destaque especial aos sacerdotes.
É apenas um dos muitos exemplos do quanto ele valoriza o sacerdócio. Em outros locais, a honra de Bento XVI poder ser vista mais claramente nos seus discursos para Padres e Seminaristas. Frequentemente, em tais ocasiões ele tem falado sobre reafirmar a identidade do sacerdote, sobre ser "humilde, mas um verdadeiro sinal do eterno Sacerdote, que é Jesus."
Mais especificamente, ele tem proferido discursos com palavras firmes de orientação e incentivo, principalmente considerando as pressões e desafios nos dias de hoje. Dirigindo-se ao clero, em Varsóvia, na Polónia, em 25 de Maio de 2006, lembrou-lhes que os fiéis "esperam somente uma coisa: que sejam especialistas na promoção do encontro do homem com Deus. Ao sacerdote não se pede para ser perito em economia, em construção ou em política. Dele espera-se que seja perito em vida espiritual”.
Ele acrescentou: "Diante das tentações do relativismo ou do permissivismo, não é de facto necessário que o sacerdote conheça todas as actuais, mutáveis correntes de pensamento; o que os fiéis esperam dele é que seja testemunha da eterna sabedoria, contida na palavra revelada (…) Cristo precisa de sacerdotes que sejam maduros, vigorosos, capazes de cultivar uma verdadeira paternidade espiritual. Para que isto aconteça, servem a honestidade consigo mesmos, a abertura ao director espiritual e a confiança na divina misericórdia”.
Mas o ponto mais enfatizado por Bento XVI tem sido para que os sacerdotes vivam com o Cristo no centro de suas vidas. Num discurso que fez no ano passado para os jovens e seminaristas no Seminário São José, em Yonkers, Nova Iorque, recomendou insistentemente que eles aprofundem a sua amizade com Jesus, o Bom Pastor, e falem de coração aberto com ele.
“Rejeitai qualquer tentação de exibicionismo, carreirismo ou vaidade”, disse. “Tendei para um estilo de vida caracterizado verdadeiramente pela caridade, castidade e humildade, à imitação de Cristo, o eterno Sumo Sacerdote, do qual vos deveis tornar imagem viva. Recordai-vos que aquilo que conta diante do Senhor é permanecer no seu amor e irradiar o seu amor pelos outros”.
A sua principal preocupação é que os sacerdotes se concentrem na Eucaristia – algo que estava claro desde o seu primeiro discurso como Papa, na Capela Sistina, em Abril de 2005: "O Sacerdócio ministerial nasceu na Última Ceia", disse ele. "Todo o restante, então, deve ser a vida de um sacerdote ‘moldada’ pela Eucaristia".
Quatro anos após o monumental dia quando vimos a eleição de Bento XVI na Praça de São Pedro, eu pedi ao meu amigo padre para me explicar o motivo pelo qual ele descreveu o Papa em sua eleição como sendo um "cardeal-sacerdote". "Ele é primeiro padre e depois uma pessoa importante”.
“Veja como ele se ajoelha diante da Eucaristia”, continuou o sacerdote, que vem da Grã-Bretanha e está colocado numa paróquia italiana. "Um gesto muito poderoso, mas não é realmente um gesto, é uma atitude normal quando você respeita a Eucaristia...”.
O padre concluiu: "ele está obviamente interessado na verdade e quer que outros se interessem também pela verdade, e não apenas nele. Os sacerdotes que não têm vocação para serem burocratas, só se tornam um deles quando são oprimidos e desmoralizados por uma diocese severa que possui “grandes iniciativas” e por alguns bispos que querem uma vida tranquila. Mas ele nunca perdeu de vista a razão pela qual se fez sacerdote, o que funciona e não funciona enquanto sacerdote.
Edward Pentin (escritor residente em Roma]
(Fonte: Zenit em http://www.zenit.org/article-22000?l=portuguese com adaptação de JPR)
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