Obrigado, Perdão Ajuda-me

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As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Comportamento

É uma constante que alguns média ataquem mais ou menos indirectamente a chamada "família tradicional", e igualmente a religião, em especial a católica. Para lá da informação, não deixará de ser útil procurar para isso uma explicação de fundo.


Que tem mais influência mais no comportamento concreto do comum das pessoas, que, se descontarmos os casos extremos para um lado ou para o outro, representam em média 60 ou 70% do total? O paradigma dominante na época, difundido sobretudo pelos média? A experiência concreta, próxima, do que se vê no nosso entorno, as circunstâncias familiares, os grupos ou instituições a que se pertence? Ou as convicções interiores, o "modelo de vida"?


Três factores


Estes três factores - os principais, a par de outros - influem em simultâneo e, em alguns casos, influem um sobre o outro. Se as convicções forem fortes e arreigadas, o paradigma mediático terá pouca força; se essas convicções forem fracas e pouco fundamentadas, o paradigma acabará na prática por determinar a conduta, porque há sempre o "Maria vai com as outras".


Partindo do aspecto pessoal, do mais íntimo, quando as convicções são sólidas e fundamentadas, serão elas o mais influente e o mais decisivo. Mas tal acontece apenas com uma escassa minoria da população. Uma convicção fundamentada não é um mero costume herdado, nem sequer uma espécie de obstinação: implica esforço por procurar a verdade e estudá-la e coerência entre o que se crê e o que se faz.


Uma maior percentagem de pessoas atém-se ao que viu fazer e ao que se faz no âmbito da sua família. Não se trata já de convicções adquiridas, mas sim herdadas. Para isto, é necessário que o modelo familiar funcione como uma estrutura relativamente sólida.


Papel semelhante ao da família "estruturada" desempenha o grupo de amigos ou a participação em alguma organização, podendo esta ter fins muito diversos: desde uma tribo urbana a uma ONG, uma instituição de carácter religioso, etc.


O influxo do paradigma difundido pelos média é fraco, pelo facto de ser externo. Não representa o que "se vê em directo" ou "se experimenta", mas o que "se vê" em imagens reflexas, "se lê" ou "se ouve". Mais do que determinar comportamentos, os média são "aceites" por quem já de antemão pensa como eles. É claro que a partir daí existe uma efectiva influência dos média, posto que eles cultivam as ideias, as crenças, etc. de quem lhes é afecto. É tão real F. escolher um média com determinada tendência como esse média escolher F.



Uma hipótese


Formulemos uma hipótese: se no comum das pessoas (ou seja, a maioria de pessoas sem convicções profundas, procuradas ou conquistadas) a influência dos média for x, a influência no seu ambiente próximo (família, grupo de amigos, organizações a que pertença) será nx, sendo n uma quantidade positiva.


Nada disto se pode medir com exactidão, mas podemos mostrar que é plausível. Por exemplo, é próprio de cada época determinar, através dos média (de um sermão a um livro difundido, de revistas ao cinema, da rádio à televisão, etc.), "o politicamente correcto", querendo "politicamente" na realidade dizer "socialmente". Através dos média - seja de que tipo forem - procura-se impor um paradigma, mesmo que se usem armas de tipos diferentes: desde a persuasão e a repetição à demonização das atitudes contrárias. Apesar de tudo isso, "o socialmente correcto", mesmo que pareça dominante, não consegue abafar uma minoria, constituída precisamente por quem mais pensa, e que se revela crítica e inconformista.


Opinião pública real e opinião publicada


Esta hipótese tem muito a ver com a produtiva e esclarecedora distinção entre "opinião pública real" e "opinião publicada".


A opinião pública real é a soma das opiniões de todos os indivíduos adultos que compõem uma determinada sociedade, coisa que só se consegue saber com fiabilidade perguntando a todos eles. Como isso na prática sai caro e é inviável, recorre-se a sondagens de opinião. No entanto, estas são sempre tendenciosas: primeiro, pelo modo, a qualidade, a forma e o conteúdo da pergunta; depois, pelas diversas atitudes face à "necessidade" de responder, já que não é novidade que poucas, algumas ou muitas pessoas respondem o que acham que devem responder, mesmo sem ser o que realmente pensam.


A opinião publicada é a soma contrastada da opinião na prática defendida pelos diferentes média. Tal opinião é, em muitos casos, a "linha editorial" e corresponde a interesses comerciais, ideológicos ou políticos. Essa opinião publicada é na realidade a opinião de determinados grupos que pretendem ganhar mais influência ao fazerem passar essa opinião particular pela opinião geral e pública.


Ainda que a experiência próxima influa mais nos comportamentos do que os média, o ponto fraco dessa experiência é o facto de ser fragmentária, de que não acrescenta, ou pelo menos, não se vê que acrescente valor. E quem pretende influir ideologicamente através dos média - o que significará, entre outras coisas, que o negócio dos média irá prosperar - está interessado em fragmentar cada vez mais a experiência próxima.


O caso da família


Nesse sentido, é exemplar o tratamento que em não poucos média recebe a chamada "família tradicional".


Desde que existem seres humanos, a estrutura familiar básica, o que em antropologia cultural se designa por "família nuclear", é uma sociedade composta por um homem e uma mulher, que normalmente têm filhos. Prescindindo agora de qualquer consideração ética ou religiosa, essa família "funciona" quando tem assegurada a sua unidade, condição indispensável para os fins do apoio mútuo dos cônjuges (também no que se refere à sexualidade), da obtenção dos meios para o seu sustento e da criação e educação dos filhos. Essa unidade pode também dar-se na união do homem e da mulher, no que se poderia chamar "casamento natural", sem nenhuma celebração, embora a lei acabe sempre por regulamentar de algum modo essa "união de facto". Portanto, aquilo que com certo matiz ideológico se costuma chamar "família tradicional", não é senão a "família funcional".


Pode acontecer e sempre aconteceu que o projecto de família não chegue a seu termo, por "falta de contributo" de uma das partes. Não se dá muita conta de tal circunstância quando não há descendência, mas se existe descendência, surge a situação de "mãe solteira" (e, em casos menos frequentes, a de "pai solteiro"). Já não estamos agora perante uma família funcional, mas perante uma situação de facto.


A família funcional é ao mesmo tempo ideal e real. E, como sempre acontece com a distinção entre ideal e real, pode dar-se um desajuste: a família pode desfazer-se, desunir-se. O divórcio é um fenómeno quase tão antigo como o ser humano. Se o divorciado ou a divorciada não têm filhos, o resultado do divórcio não é uma família, mas um estado civil: separado/a, divorciado/a. Se o divorciado ou a divorciada contraem uma nova união, o resultado é - para efeitos civis - uma nova família, que é simultaneamente funcional (se se der a condição da unidade) e disfuncional, sobretudo no caso de haver filhos do casamento anterior, e isto nota-se, sobretudo do ponto de vista dos filhos, no facto de terem dois pais e duas mães. Situação que a boa vontade pode dulcificar, mas que nem por isso deixa de ser disfuncional.


Quando se quer atacar e fragmentar o ambiente próximo da família funcional, começa-se por dizer que a "família tradicional" (quer dizer, a funcional) não se pode considerar nem o único nem o mais valioso "modelo" de família. Que família é a mãe solteira ou o pai solteiro e são famílias as dos divorciados. Mas depois vai-se mais além: chama-se família à união de duas pessoas do mesmo sexo, legalizando o falsamente chamado "casamento homossexual".


Ao negar-se às mães ou pais solteiros, às famílias de divorciados ou às uniões homossexuais o carácter de família funcional, não se pretende dizer nada contra as pessoas que se encontram em tais situações, que deverão ver reconhecidos os seus direitos como seres humanos. Mas apresentar esse leque de "famílias" todas ao mesmo nível costuma ser um modo indirecto de fragmentar e desprestigiar a família funcional, que continua a ser o melhor ambiente para cuidar e educar os filhos, ou seja, para cuidar de todos porque, embora nem todos sejamos pais ou mães, todos somos filhos.


O caso das instituições


A seguir à família, ou ao mesmo nível, estão as instituições capazes de dar sentido à vida de uma pessoa. Existem muitas, mas as mais espalhadas são as de carácter religioso.


É certo que na história da humanidade, e mesmo hoje, existem grupos que se apresentam como religiosos sem na verdade o serem, na medida em que incitam à divisão, ao ódio ou ao fanatismo. Se religião, no seu sentido mais elementar, é a "religação" do ser humano com Deus, e Deus é o Bem supremo, favorecer o mal não é compatível com a religião. Ou uma religião é uma religião de amor, ou não é religião nenhuma. A tradição judaico-cristã coincide neste mandamento, como sendo o principal: "Amar a Deus sobre todas as coisas e amar os outros como a nós mesmos". O cristianismo deu um salto de qualidade ao proclamar: "Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei".


Promover o desprestígio da religião em geral e do cristianismo em particular (e do catolicismo com especial sanha) é outro modo de acabar com os ambientes de experiência próxima, que proporcionam a formação necessária para se não sucumbir ao "socialmente correcto".


Tudo isto são considerações gerais, mas é o pensamento crítico que consegue ir ao fundo das questões - neste caso, dos diversos ataques à família e à Igreja.


Rafael Gómez Pérez
Aceprensa

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