O prof. Philippe Chenaux
conta a história e a importância da Declaração "Dignitatis Humanae"
Por Antonio Gaspari
De acordo com Philippe Chenaux, Diretor do Centro de Estudos sobre o
Concílio Vaticano da Pontifícia Universidade Lateranense, a declaração Dignitatis Humanae (DH) sobre a
liberdade religiosa, é um documento de importância histórica "dos
maiores documentos do Concílio".
Falando no dia 3 de maio para o ciclo de conferências organizado pelo
Centro de Estudos e Pesquisas sobre o Concílio Vaticano II da Lateranense em
colaboração com o Centre Culturel Saint
Louis de France sobre o tema "Revisar o Concílio, Historiadores e
teólogos confrontando-se, "o professor de História da Igreja Moderna e
Contemporânea contou o trabalho que deu esta declaração e como os padres
conciliares embora partindo de posições diferentes e em alguns casos opostas
chegaram a votar com grande maioria a Dignitatis
Humanae.
A declaração sobre a liberdade religiosa era considerada pelo Papa Paulo VI
como um dos grandes documentos do Concílio, não tanto pelo seu tamanho
(trata-se de um dos textos mais curtos), e nem sequer pela forma (é uma
declaração simples), mas sim pelo seu conteúdo.
Para o prof. Chenaux a DH "resolvia dois dos problemas mais
difíceis com que a Igreja se enfrentava há pelo menos dois séculos: o problema
da relação entre liberdade e verdade, a nível teórico ou teológico, e aquele
das relações entre a Igreja e o Estado moderno, a nível
político-eclesiástico”.
O debate sobre a liberdade religiosa tem sido controverso, porque
"apesar da Igreja sempre ter afirmado a liberdade do ato de fé", ou
seja, que "ninguém pode ser forçado a abraçar a fé contra a sua
vontade", era necessário superar o legado da aliança institucional
dos poderes espirituais e temporais, da intolerância religiosa subsequente
à reforma e contra-reforma e uma certa intransigência durante o século XIX.
O professor da Lateranense explicou que "A tese intransigente do
Estado Católico tinha permanecido oficial pela Igreja, pelo menos, até o final
do pontificado de Pio XII" quando "A dolorosa experiência dos
totalitarismos (o comunismo, o nazismo, o fascismo) tinham contribuído para uma
redescoberta pelo Magistério da Igreja da eminente dignidade da pessoa humana e
dos seus direitos fundamentais".
Em mensagens de rádio no tempo de guerra, em Natal de 1942 e no Natal de
1944, Pio XII enfatizou a dignidade da pessoa humana e a importância de uma
democracia saudável.
Para Chenaux já antes da Segunda Guerra Mundial, a Igreja era incapaz de
conformar os poderes do Estado com o reconhecimento de Deus e da
Igreja. Nos Pactos de Latrão com a Itália fascista (1929); o
Reichskonkordat com a Alemanha nazista (1933); e o Concordato com a Espanha de
Franco, em '53, a Igreja adotou uma política de defender o "mal
menor", a fim de garantir a liberdade da Igreja, do clero, dos
católicos e de todos os cidadãos.
No concílio as duas posições, a mais ortodoxa e a outra que abria para o
mundo tendo em conta a mudança dos tempos, se confrontaram, ao ponto de que a
elaboração da DH "foi até o último momento trabalhosa e difícil".
Chenaux disse que, mesmo em maio de '64 "O debate entre apoiantes e
opositores do texto (da DH) foi muito amargo". Os bispos
norte-americanos e muitos bispos da Europa do Leste (especialmente polacos) ",
afirmaram a necessidade de reconhecer um direito com base na natureza da pessoa
humana. Os segundos, ou seja, os adversários, expressaram a convicção de
que não se podia separar a liberdade religiosa da verdade e dos seus direitos".
No debate interveio o então Arcebispo de Cracóvia, monsenhor Karol Wojtyla,
que propôs preparar duas declarações: "uma dirigida aos cristãos
não-católicos com um espírito ecuménico, para dizer que a verdade cristã nos
torna livres, e outro dirigida aos governos, uma declaração ad Extra, que servia aos
interesses da Igreja nos países comunistas".
Em dezembro de 1964, a pedido do Papa Paulo VI, também foi consultado o
filósofo Jacques Maritain, que em memorando entregue ao Papa em março de 1965,
lembrou com vigor que "a liberdade religiosa deve ser proclamada e mantida
como um dos direitos humanos fundamentais da pessoa humana".
Acontece assim que no dia 7 de dezembro de 1965, com 2308 placet e 70 non placet, a declaração DH foi aprovada e promulgada pelo Papa
Paulo VI.
A DH diz: "Este Concílio
declara que a pessoa humana tem direito à liberdade religiosa, esta liberdade
consiste no facto de que todos os homens devem estar livres de coação por parte
de indivíduos e grupos sociais e de todo poder humano para que, em matéria
religiosa, ninguém seja forçado a agir contra a sua consciência, nem impedido
dentro dos devidos limites a agir de acordo com sua consciência, em particular,
publicamente, sozinho ou associados com outros."
O jesuíta José Leclerc, professor de eclesiologia no Institut Catholique de Paris e autor de uma obra sobre a história
da tolerância na idade moderna, escreveu na revista Etudes em Abril de 1966, que foi um "acontecimento
extraordinário" na história dos Concílios .
[Tradução Thácio Siqueira]
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