O presente Governo é, entre outras coisas, uma máquina de “marketing”– uma excelente máquina, devo reconhecer. Não é uma novidade deste Governo: qualquer Executivo que se preze tem a sua equipa de gestão de imagem. Mas fico com a impressão de que Sócrates & Ca. levaram a arte e artimanha do “marketing” político a níveis até agora insuspeitados (níveis particularmente
altos ou particularmente baixos, consoante a perspectiva).
À distância geográfica e psicológica a que me encontro é difícil conhecer tudo em pormenor. Mas o que oiço sobre viagens de “propaganda”, jornalistas estrangeiros que são bem tratados e especialmente jogos de influências sobre os media nacionais – tudo isto sugere uma maquinação maquiavélica de grandes proporções.
Tal como já tive oportunidade de escrever, a concentração de poderes ao nível do aparelho de Estado português é preocupante: a Assembleia, os tribunais, as agências reguladoras, os ministros
– todos estão no bolso de Sócrates.
Como se isso não bastasse, os media – a última esperança de balanço de poderes – estão também (salvo honrosas excepções) à disposição do “Primeiro-ministro sol” (referência ao monarca francês, não ao semanário português).
Que fazer? Mudar o “modus operandi” do presente Governo é impossível.
Mas temos aqui uma excelente oportunidade para a oposição prometer medidas concretas de independentização dos media.
Concretamente, a promessa de reduzir ao mínimo a participação financeira e o controlo dos media (quer directa, quer indirectamente) por parte do Estado.
Luís Cabral
Professor da IESE Business School
(Fonte: ‘Página 1’, grupo Renascença, na sua edição de 8.10.2010)
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