«Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, o temor dominava todos os espíritos. Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um.
Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e tinham a simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava, todos os dias, o número dos que tinham entrado no caminho da salvação.» Act 2, 42-47
«Eram assíduos…às orações»
«Na Nova Aliança, a oração é a relação viva dos filhos de Deus, com o Pai infinitamente bom, com o Seu Filho Jesus Cristo e com o Espírito Santo.» (Cat. Igr. Cat. 2565)
Se a oração é a relação viva dos filhos de Deus, com a Santíssima Trindade, com o nosso Deus Uno e Trino, compreende-se bem que uma comunidade que se pretende cristã, só o é verdadeiramente se viver em comunhão de oração, oração que a leva à relação viva com Deus, em comunhão de irmãos e individualmente.
E para que a comunidade viva em comunhão de oração, é preciso sem dúvida que cada um dos seus membros viva em oração também, pois só em oração cada um pode ter a relação viva com Deus que transforma o homem e o faz irmão do seu irmão, pela filiação divina que nos é obtida pela graça do Baptismo.
E somos nós «assíduos…às orações»?
E é a nossa comunidade «assídua…às orações»?
É que a nossa comunidade só pode ser «assídua…às orações», se nós o formos também.
E como são as nossas orações?
É que “normalmente” as nossas orações, são orações de petição, ou seja, são orações a pedir, sempre a pedir, e a maior parte das vezes por nós e por aqueles que nos são queridos.
E muitas vezes as nossas orações quedam-se pelo eu e pelos meus, quando deveríamos ao pedir por nós, pelas nossas situações, “alargar” essas orações a todos aqueles que vivem as mesmas circunstâncias, ou seja, passarmos do eu ao nós.
E ainda o que é “mais interessante” é que pedimos, pedimos, e não nos calamos um pouco, ou seja, não fazemos silêncio para escutarmos o que Deus nos quer dizer das e nas situações que enfrentamos.
Costumo dizer a quem me procura e me afirma que reza, reza sem parar, e que acha que Deus não lhe responde, que se fizer silêncio é capaz de “ouvir” a voz de Deus dizer-lhe: «Cala-te um bocadinho, para ouvires o que te quero dizer!»
E a adoração e o louvor, fazem parte das nossas orações?
Dizem alguns autores católicos que a oração de louvor “toca o coração de Deus”.
Se nos deixamos envolver pela oração de louvor, então a oração toma conta das nossas vidas, pois em tudo, até nas contrariedades louvaremos o Nosso Deus e Senhor.
A nossa vida, se em tudo louvamos a Deus, passa então ela própria a ser uma oração, e não é isso mesmo que é ser «assíduo…às orações»?
A verdade é que Deus colocou o mundo nas nossas mãos e chamou-nos a colaborarmos com Ele na obra da criação, o que nós fazemos sempre que trabalhamos tendo em vista não só o nosso bem-estar, mas também o dos outros, o que só podemos fazer, se o nosso trabalho for uma oferta a Deus, for feito com Deus e para Deus.
E se assim fizermos, não será o nosso trabalho uma oração contínua?
Claro que percebemos que nesta frase «eram assíduos…às orações», São Lucas nos remete para a oração comunitária, o que nos leva a reflectir sobre a necessidade de um verdadeiro cristão não limitar a sua vivência da fé, pura e simplesmente, à Eucaristia Dominical.
Com efeito, nas nossas paróquias há muitos momentos, (fora do Domingo), em que a comunidade paroquial se reúne em oração: nas festas religiosas, na recitação do Terço, em momentos de adoração ao Santíssimo, em tempos tão específicos como o Advento e a Quaresma.
E nós, unimo-nos á nossa comunidade nesses momentos de oração?
Somos assim «assíduos…às orações»?
Tal como acima está escrito, não há oração comunitária se não houver oração individual, a oração de cada um, e até a oração em família, que é no fundo a comunidade base, a “igreja doméstica”, onde o primeiro testemunho é dado aos jovens, não só para viverem a fé que lhes é transmitida, mas também para perceberem a importância imprescindível da oração na vida dos filhos de Deus.
Basta lermos os Evangelhos e percebermos que a vida de Jesus Cristo na terra, foi uma contínua oração que os evangelistas fazem questão de salientar, sobretudo nos momentos, digamos, mais importantes da Sua Missão: no Seu Baptismo*, na Sua Transfiguração*, na escolha dos Doze*, na agonia no Monte das Oliveiras*, no momento da Sua Morte*, etc., etc.
Se a vida do verdadeiro cristão é a imitação de Cristo, e deve sê-lo sem dúvida, então a oração deve ser a linha contínua que atravessa toda a sua vida, de tal modo que a vida do cristão seja uma permanente oração ao seu Deus e Senhor.
Só assim seremos verdadeiramente «assíduos…às orações».
* Lc 3,21, Lc 9,28, Lc 6,12, Lc 22, 41-44, Lc 23,46
Monte Real, 21 de Outubro de 2010
(continua)
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Joaquim Mexia Alves
http://queeaverdade.blogspot.com/2010/10/comunidade-modelo-5.html
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