Dois físicos católicos descartaram que o novo livro do Stephen Hawking, "The Grand Design", chegue a eliminar a existência de Deus como criador do universo, apesar de que o autor tenha lançado a audaz afirmação de que o universo "criou-se do nada".
O académico jesuíta Robert Spitzer explicou que as afirmações de Hawking contra a existência de Deus e em favor da física reflectem confusões fundamentais sobre o conceito cristão de Deus como criador de tudo o que existe, o que inclui o universo e as leis da física que se lhe aplicam.
Segundo o Padre Spitzer embora Hawking fale de um universo "criando-se a si mesmo do nada", pressupõe-se que este "nada" de alguma maneira envolve a gravidade e outras leis fundamentais da física.
Mas os princípios como a gravidade não são axiomas irredutíveis nem evidentes. Ao contrário, são as leis não físicas as que regem as operações ordinárias do mundo físico. Não há comparação entre uma criação que se desdobra e se desenvolve de acordo às leis da matéria, e a proposta de Hawking de "geração espontânea" da "nada", explica o sacerdote.
Para o perito, Hawking interpreta mal a verdadeira relação entre Deus e sua criação. "Hawking não explicou claramente por que existe algo em lugar de nada. Só afirmou que algo vem de algo", ao descrever o desenvolvimento de um universo que funciona na base de leis como a gravidade.
Historicamente, muitos teólogos cristãos, assim como filósofos não cristãos, argumentaram precisamente o contrário ao ponto de Hawking: as leis da física só podem ser atribuídas a um criador infinito, inteligente e não físico.
O "Deus" do Hawking
O jesuíta Guy Consolmagno, astrónomo do Observatório do Vaticano, explicou à agência Catholic News Agency, do grupo ACI, que as condições prévias do universo em desdobramento e suas operações não podem ser uma forma de "nada", como considera Hawking, mas condições criadas por Deus para o ordenamento do mundo.
"Deus é a razão pela qual o espaço e o tempo e as leis da natureza confluem nas forças de operação das que fala Stephen Hawking", assinalou.
Para Consolmagno, o desprezo de Hawking a Deus apoia-se não só na sua denominação errónea das leis físicas como "nada", mas também em sua falta de compreensão da noção de transcendência de Deus. Assim, o que Hawking realmente descartou foi um tipo de "deus" no qual os cristãos não acreditam.
"O 'deus' no qual Stephen Hawking não acredita, é o mesmo no qual eu não acredito. Deus não é apenas outra força no universo, junto com a gravidade ou a electricidade. Deus não é uma força a ser invocada para preencher os vazios de nosso conhecimento", acrescenta o perito.
Consolmagno recorda que "Deus é a razão pela qual a existência mesma existe".
Para o Padre Spitzer, Hawking admite este profundo mistério no mesmo momento em que trata de desprezá-lo.
"Em minha opinião, o Dr. Hawking ainda não demonstrou que esta realidade não seja necessária. Na realidade, ele deixa-o implícito ao considerar a existência de um início na sua afirmação sobre o universo que provém do nada", conclui Spitzer.
(Fonte: ‘ACI Digital’ com adaptação de JPR)
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